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ELIANE CANTANHÊDE
Cala-te 2
BRASÍLIA - O resultado do referendo na Venezuela foi ótimo para
todos os lados, inclusive para Hugo
Chávez e principalmente para a
oposição. Foi, também, mais uma
demonstração de que o país vive
uma democracia -peculiar, é verdade, mas ainda assim democracia.
Chávez esticou demais a corda, e
a corda estourou. Ele continua popularíssimo, com o preço do petróleo na estratosfera e cinco anos de
mandato pela frente. É forte, portanto. Mas a derrota foi um banho
de realismo, e ele está obrigado a
uma boa reflexão sobre seus limites: até onde os chavistas estão dispostos a viver e a morrer por ele?
Ao praticamente inventar uma
nova Constituição da sua própria
cabeça e em seu próprio favor, ele
acirrou os ânimos de uma oposição
até agora combalida e introduziu
dois fatores decisivos para a derrota
de domingo: 1) espantou aliados estratégicos, que concordam com o
projeto social, mas não com a guinada autoritária; 2) forjou uma nova força política no país -a estudantada que foi às ruas, cobrindo o
vácuo de lideranças oposicionistas.
A ausência de 44% do eleitorado
(o voto é facultativo) demonstra
que as críticas tanto dos desiludidos
como dos estudantes tiraram o ânimo de eleitores chavistas. Na dúvida, ficaram em casa.
Sem querer, Chávez pode sair lucrando. Perdeu, acatou o resultado,
sinalizou ao mundo que ele até pode ter impulsos de ditador, mas a
Venezuela não vive uma ditadura.
Aliás, estava em paz ontem.
É hora de baixar a crista, calar um
pouco, reabrir os canais com a Colômbia. Isso tudo faria enorme bem
a Chávez, à Venezuela e à América
do Sul. Facilitaria, inclusive, o voto
do Congresso pela adesão do país ao
Mercosul.
Só falta combinar com o adversário. Chávez reagiu bem no primeiro
momento, mas tem ainda muito
tempo para novas estripulias e para
insistir em mandatos sucessivos.
Senão não seria Chávez.
elianec@uol.com.br
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