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CARLOS HEITOR CONY
Tudo é possível
RIO DE JANEIRO - Sem entrar
no mérito de mais um canal de TV
oficial, desejo o maior sucesso para
a jornalista Tereza Cruvinel, a
quem devo admiração e gratidão
pelos artigos que publicava em sua
respeitável coluna. O desafio que
ela vai enfrentar não é mole, mas
todos reconhecemos sua fibra e
vontade de acertar.
Pessoalmente, estou me lixando
para a necessidade de mais um canal de TV, ainda mais gerida ou supervisionada direta ou indiretamente pela máquina oficial, apesar
de isentos que sejam os seus propósitos. Mas confio que Tereza saberá
dar a volta por cima.
Por falar em TV, problema de
saúde que se arrasta há meses me
obrigou a enfrentar a telinha com
certa freqüência. Ficou difícil manter meus hábitos antigos.
Não consigo me distrair com a
programação existente, vejo os noticiários, documentários, raríssimos filmes, todos repetidos à
exaustão, sobretudo nos canais de
assinatura. Não é para me gabar,
mas acho que, se tivesse tempo e
equipamento, seria capaz de fazer
um porta-aviões desde a primeira
lâmina de aço a ser cortada para o
casco. Acredito, sem falsa modéstia,
que também seria capaz de construir uma ponte ligando Nova York
a Londres. Já vi umas duzentas vezes como ela pode ser feita.
O problema é arranjar patrocínio, tanto para fazer uma ponte
transoceânica como para editar um
livro de poemas que nunca escrevi
-nem pretendo escrever. Desconfio de que ninguém acreditará nas
minhas possibilidades, nem como
construtor de pontes nem como
poeta.
Outro dia, recebi o convite para
um show. Metade do cartão -muito bem impresso- era ocupada pela
relação dos patrocinadores: três estatais, alguns ministérios, duas
ONGs, uma companhia aérea, um
refrigerante e até mesmo uma produtora de soja.
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