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MARCOS NOBRE
A chave do tamanho
A PESQUISA do Datafolha
mostrou que quase dois terços do eleitorado são a favor
do instituto da reeleição. E, ao
mesmo tempo, a maioria é contra a
possibilidade de um terceiro mandato. As duas coisas juntas fazem
muito sentido.
Quem está na Presidência tem
uma enorme exposição midiática
garantida. Tem poder sobre a agenda das discussões, sobre a máquina
pública. Essa vantagem de saída é
que mostra o sentido da reeleição.
Trata-se, na verdade, de um mandato de oito anos com um referendo de tipo muito especial no meio.
Porque campanha eleitoral com
um candidato exercendo o mandato é sempre um contra ou a favor
do governo.
Reeleição e tamanho do mandato têm que ver com horizonte de
planejamento e de implementação
de políticas públicas. Quem se elege já inicia o mandato tentando garantir uma nova vitória quatro
anos depois.
Mas têm que ver também com
controle do exercício do poder.
Porque a vitalidade de uma democracia depende de que o conforto
do poder não seja seguro. Depende
de que os temas e problemas em
discussão não se resumam sempre
e apenas a um referendo do governo de plantão.
No regime presidencialista brasileiro, a possibilidade de um terceiro mandato prejudicaria em
muito o debate público e o controle
popular. Restringiria a dinâmica da
economia e da sociedade ao horizonte das políticas governamentais do momento.
O mandato presidencial no Brasil já teve quatro, cinco, seis anos. A
Constituição de 1988 determinou
mandato de cinco anos, reduzido
depois para quatro em 1994. A figura da reeleição apareceu só em
1997.
Depois de três eleições presidenciais com essa regra, a pergunta a
fazer é por que se deveria mudá-la.
E as razões que apareceram até
agora não dizem respeito a esse balanço entre horizonte de planejamento e controle do exercício do
poder.
A tendência brasileira de mudar
as regras a toda hora tem muito
mais que ver com circunstâncias e
conveniências partidárias. Neste
momento, a preocupação dos políticos é que reeleição trava a fila.
Tem muita gente querendo ser
candidato, e a vida política tem
prazo de validade. Daí ressuscitarem agora a idéia do mandato de
cinco anos sem reeleição.
Quem leu Monteiro Lobato sabe
que a boneca Emília chegou a pensar que tinha acabado com as guerras no mundo diminuindo o tamanho das pessoas. Depois de uma
viagem pelo mundo, convenceu-se
de que o assunto devia ser resolvido por plebiscito. Muito mais razoável do que deixar na mão de
candidatos a candidatos a chave do
tamanho.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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