São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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As opções de Obama


Ministério do futuro presidente dos Estados Unidos equilibra-se entre desejos de mudança e políticas de conciliação

EM PLENA lua-de-mel com Barack Obama, dificilmente a opinião pública estaria disposta a encontrar motivos de crítica em suas primeiras decisões como presidente eleito.
Descontado o compreensível encantamento das últimas semanas, ainda assim a composição do ministério de Obama parece capaz de inspirar reações iniciais de confiança.
Eleito sob o signo da mudança, o futuro presidente dos Estados Unidos pautou sua campanha, ao mesmo tempo, pelo tema da reconciliação e da unidade de todos os cidadãos americanos.
Dessa perspectiva, o secretariado de Obama aponta para a formação de um ambiente de consenso, depois das graves cisões desencadeadas pela era Bush. Sinal mais nítido desse intuito foi a manutenção no posto de Robert Gates, secretário da Defesa da atual administração.
A escolha tem o condão de diminuir as dúvidas, presentes em alguns setores da opinião pública americana, de que um presidente democrata seria excessivamente brando no trato das ameaças externas ao país.
Ao mesmo tempo, não indica nenhum recuo expressivo com relação às idéias defendidas por Obama na questão do Iraque, e da "guerra contra o terrorismo" em seu sentido mais amplo. A retirada das forças americanas daquele país já vinha sendo contemplada pela atual administração, a despeito das intransigências e alucinações retóricas de seus adeptos radicais.
O próprio desenrolar dos acontecimentos, sem dúvida, forçou a adoção de atitudes mais equilibradas e realistas nessa área -a ponto de não parecer estranha, por fim, a presença de um republicano entre os assessores diretos de Obama.
Também na economia, a violência da crise suscitou, da parte do governo Bush, medidas estranhas aos padrões de "laissez-faire" que marcaram os seus tempos de fastígio doutrinário. A escolha de Tim Geithner para o cargo de secretário do Tesouro vem acentuar, assim, uma agenda de mudanças que a própria realidade, com as turbulências que se conhecem, vem impondo à atual administração.
Hillary Clinton, ex-adversária de Obama na corrida democrata à candidatura presidencial, é a personalidade mais forte e célebre da nova equipe. Sua escolha para a Secretaria de Estado vem apaziguar os ressentimentos que ainda restam no interior do partido. Também acentua, dado o trânsito e a experiência da ex-primeira-dama no cenário internacional, o propósito de recuperar para os Estados Unidos uma liderança política que o mero uso de seu poderio bélico não se mostrou capaz de assegurar.
A "realidade dos fatos", como se costuma dizer, orienta assim as escolhas do futuro presidente, permitindo-lhe criar consensos sem abandonar o lema da mudança. Mas os fatos -também se sabe- não costumam ser dóceis às intenções de um governante; nem lhe oferecem os favores que, não sem razão, Obama obtém da opinião pública nestes dias.


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