|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Cadê a blindagem que estava aqui?
SÃO PAULO - Era uma vez um
tempo em que o Brasil estava blindado contra a crise externa. No máximo, haveria por aqui uma "marolinha", lembra-se? Agora, já são
duas as consultorias (Morgan Stanley, norte-americana, e LCA, brasileira) falando não mais em desaceleração, mas em recessão -os
tais dois trimestres consecutivos de
retração da economia.
Não sei se vem "marolinha" ou
recessão por aí. Mas sei que foram
pouquíssimos os economistas/consultorias que não falaram em blindagem. Ou pelas formidáveis reservas, ou pelo formidável mercado interno, ou porque os emergentes salvariam o mundo, ou por qualquer
outra tese que, agora, se desmancha
no ar cada vez que sai um novo dado
da vida real.
O que acho, honestamente, é que
a Folha, para não dizer todo o jornalismo brasileiro, deveria adotar
como regras pétreas de seu "Manual da Redação" os seguintes elementos:
1 - Todo economista/consultoria
que errar por mais de 5% suas previsões sobre PIB, câmbio, juros etc.
fica definitivamente riscado da
agenda de fontes. Nunca mais será
ouvido.
Vinicius Torres Freire, esse excelente colunista, me diz que, se aplicada, a regra nos deixaria com zero
fontes. Ótimo. Cometeríamos nossos próprios erros em vez de sermos cúmplices de erros alheios.
2 - Toda vez que se publicar palpite de economista/consultoria, seria obrigatório mencionar quais interesses estão em jogo, se ele tem
ou recomenda aplicações no dólar
ou contra o dólar, nos juros altos ou
baixos, e assim por diante.
O leitor teria pelo menos um elemento para julgar se o palpite vem
do cérebro do consultado ou do
bolso.
3 - No fim de cada ano ou trimestre, seria publicada a lista completa
de palpites dessa turma toda, ao lado dos dados da realidade, para que
o leitor possa saber quem chuta
bem e quem chuta mal.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Os cortes de Kassab
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Tudo muito feio Índice
|