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Diplomacia incoerente
O VEREDICTO do Congresso
de Honduras foi eloquente: por 111 votos, contra 14,
a proposta de restituir a Presidência a Manuel Zelaya até o fim
do mandato, em 27 de janeiro, foi
rejeitada. Três dias depois do
pleito que elegeu o conservador
Porfirio Lobo, a decisão dos legisladores hondurenhos consuma a transição do governo interino de Roberto Micheletti.
Confirma-se, de um lado, a ampla rejeição da sociedade e das
instituições hondurenhas ao
presidente deposto em 28 de junho. Acentua-se, do outro, a imaturidade da diplomacia brasileira, que se atrelou a um dos lados
da disputa, perdeu sua capacidade de mediação e não enxergou
numa eleição presidencial livre e
competitiva o único caminho para a resolução do impasse.
Chega a ser espantoso o contraste entre o principismo pueril
demonstrado pelo Itamaraty no
caso de Honduras e o pragmatismo, maduro e bem modulado,
com que o presidente Lula recebeu o líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em Brasília. A quem
não conhecesse nada de política
internacional, pareceria que o
regime que censura, reprime e
mata dissidentes é o centro-americano, e não o iraniano.
A razão militante de alguns
operadores da política externa
de Lula produziu uma incoerência profunda, estranha à tradição
diplomática brasileira. Pelo critério aplicado a Honduras, seriam ilegítimos quaisquer pleitos realizados sob regimes não
democráticos, o que resultaria
numa aberração -eleições nos
estertores seja de ditaduras como a cubana, seja de governos de
fato como o hondurenho, são
formas clássicas de transição pacífica rumo à democracia.
Além de Manuel Zelaya hospedado (até quando?) na embaixada de Tegucigalpa, o Brasil herda
desse episódio mais que o desgaste de uma derrota pontual.
Fica exposta a fragilidade de uma
política externa que vem sendo
usada para agradar uma facção
militante da base do governo.
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