São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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RUY CASTRO

Frases à queima-roupa

RIO DE JANEIRO - Atirar um par de sapatos no presidente americano é um ato de coragem como protesto, mas bem mais fácil de perpetrar quando se está no próprio país, no caso o Iraque. Nos EUA, Muntazer al Zaide, o autor da façanha, não chegaria a arremessar o segundo sapato -30 homens de preto pesando 150 kg per capita já teriam caído sobre ele.
Para registrar um protesto junto ao homem mais poderoso do mundo, há que ser à queima-roupa. Como a cantora Eartha Kitt, morta outro dia, e cuja frase dirigida a Lady Bird, mulher do presidente Lyndon Johnson, contra a Guerra do Vietnã, foi uma bomba.
Foi em janeiro de 1968. A primeira-dama convidou um grupo de mulheres à Casa Branca para um almoço. Em meio ao rega-bofe, Lady Bird perguntou-lhes como conter a delinquência juvenil na América. Eartha fulminou: "Vocês mandam o melhor da nossa juventude para morrer ou voltar aleijada do Vietnã, e não querem que os garotos se rebelem ou fumem maconha?".
Por causa disso, Eartha gramou dez anos sem trabalho nos EUA -Johnson deixou o cargo, mas a lista negra se transferiu a seu sucessor, Richard Nixon. E, em 1972, Nixon também passou por algo igual. Foi num jantar na Casa Branca em homenagem a Lila e DeWitt Wallace, fundadores do Reader's Digest. A atração musical eram a orquestra e o coro de Ray Conniff. O brinde deve ter sido com Ovomaltine.
Em meio ao show, Carol Feraci, 30 anos, uma das cantoras de Conniff, deu um passo à frente e ergueu para Nixon um cartaz que dizia, "Parem com a matança!". E, de um jato, perguntou-lhe por que ele mandava bombardear pessoas, animais e florestas no Vietnã. Nixon, sentado a cinco metros, fez gulp. Carol foi evaporada em três segundos -para sempre-, mas nunca se desculpou.


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