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RUY CASTRO
Frases à queima-roupa
RIO DE JANEIRO - Atirar um par
de sapatos no presidente americano é um ato de coragem como protesto, mas bem mais fácil de perpetrar quando se está no próprio país,
no caso o Iraque. Nos EUA, Muntazer al Zaide, o autor da façanha, não
chegaria a arremessar o segundo
sapato -30 homens de preto pesando 150 kg per capita já teriam
caído sobre ele.
Para registrar um protesto junto
ao homem mais poderoso do mundo, há que ser à queima-roupa. Como a cantora Eartha Kitt, morta outro dia, e cuja frase dirigida a Lady
Bird, mulher do presidente Lyndon
Johnson, contra a Guerra do Vietnã, foi uma bomba.
Foi em janeiro de 1968. A primeira-dama convidou um grupo de
mulheres à Casa Branca para um almoço. Em meio ao rega-bofe, Lady
Bird perguntou-lhes como conter a
delinquência juvenil na América.
Eartha fulminou: "Vocês mandam
o melhor da nossa juventude para
morrer ou voltar aleijada do Vietnã,
e não querem que os garotos se rebelem ou fumem maconha?".
Por causa disso, Eartha gramou
dez anos sem trabalho nos EUA
-Johnson deixou o cargo, mas a lista negra se transferiu a seu sucessor, Richard Nixon. E, em 1972, Nixon também passou por algo igual.
Foi num jantar na Casa Branca em
homenagem a Lila e DeWitt Wallace, fundadores do Reader's Digest.
A atração musical eram a orquestra
e o coro de Ray Conniff. O brinde
deve ter sido com Ovomaltine.
Em meio ao show, Carol Feraci,
30 anos, uma das cantoras de Conniff, deu um passo à frente e ergueu
para Nixon um cartaz que dizia,
"Parem com a matança!". E, de um
jato, perguntou-lhe por que ele
mandava bombardear pessoas, animais e florestas no Vietnã. Nixon,
sentado a cinco metros, fez gulp.
Carol foi evaporada em três segundos -para sempre-, mas nunca se
desculpou.
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