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ESTOJO DE INUTILIDADES
Acaba de ser tornada obrigatória no
Brasil uma inutilidade que só vai servir para arrancar algo em torno de R$
275 milhões dos proprietários de automóveis. Ela vem travestida de equipamento obrigatório de segurança.
O bom senso, porém, sugere que um
mero estojo de primeiros socorros
pouco ou nada poderá contribuir para diminuir número ou gravidade das
vítimas do trânsito.
Decerto que fabricantes de ataduras, luvas de borracha e tesouras de
pontas redondas -alguns dos preciosos itens acondicionados no kit-
podem dar-se por satisfeitos. Ganharam, talvez de presente de fim de
ano, do Departamento Nacional de
Trânsito, um mercado cativo de 27,5
milhões de consumidores. Estes doravante estão compelidos a gastar R$
10, em média, pela bolsa.
Mais correto seria falar em estojo de
primeiros lucros, ou primeiros pretextos para achacar motoristas. Afinal, a compulsoriedade da compra
vem concretizada na ameaça de multa no montante de R$ 115. Zelo extremado com a vida, logo se vê.
Especialistas em segurança de trânsito consideram o estojo, na melhor
das hipóteses, apenas inócuo. Sua
adoção poderia até estimular aqueles
que prestam socorro a estendê-lo
além dos limites de sua própria capacidade de discernimento. Certamente não é do conhecimento de todos
quando se deve tentar ajudar um acidentado e quando é mais prudente
aguardar cuidados médicos ou paramédicos qualificados.
Quando muito, os implementos ora
tornados obrigatórios poderão ser
úteis no tratamento de pequenos ferimentos, mas estes são aqueles em
que não há urgência. As urgências
reais teriam mais a ganhar se o investimento social nos estojos -um
quarto de bilhão de reais- fosse trocado pela muito menos onerosa e
mais eficaz fiscalização contra as
maiores causas das mortes no trânsito, como o consumo de álcool e a imprudência contumaz ao volante.
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