São Paulo, terça, 5 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com medo de uma palavra

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Celso Lafer, o novo ministro do Desenvolvimento, até que estava indo bem na entrevista publicada ontem pela Folha.
Defendeu apoio às pequenas e médias empresas, o que faz todo o sentido. Primeiro, porque são elas que, no mundo todo, criam mais empregos. Segundo, porque podem de fato, como quer o ministro, tornar-se exportadoras, com o devido incentivo.
Têm, em tese, mais flexibilidade para descobrir e conquistar nichos de mercado, ao contrário das grandes, em geral multinacionais, atadas às diretrizes traçadas pelas matrizes.
Pena que o ministro revele tanto medo da palavra proteção, tornada maldita pela ideologia hoje hegemônica. Proteção, em si, não é um bem ou um mal. Depende da finalidade.
Proteger o produtor para que se torne ineficiente é bobagem. Mas proteger um setor para que nasça ou floresça com robustez e se torne internacionalmente competitivo é algo que meio mundo faz. Não raro, funciona.
Por que temer a palavra proteção, se quase todos os países a adotam? Para citar um só exemplo: a embaixada brasileira nos EUA editou livreto de 92 páginas listando as barreiras ao acesso de produtos e serviços brasileiros no mercado norte-americano.
Se é assim no país que se orgulha, com certa razão, de ser o mais aberto do mundo, por que o Brasil deveria ser o tonto de plantão que não se protege?
A propósito: em agosto de 98, o Departamento de Comércio norte-americano publicou aviso pedindo sugestões dos interessados sobre a posição que os EUA devem defender na Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que vai se realizar em novembro/dezembro próximos e abrirá novo ciclo de discussões comerciais planetárias.
Quinze meses antes, eles estão se preparando, certamente não para abrir mais seus mercados (ao menos não sem grandes contrapartidas). E o Brasil se protege como?



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.