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Com medo de uma palavra
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Celso Lafer, o novo ministro do Desenvolvimento, até que estava indo bem na entrevista publicada ontem pela Folha.
Defendeu apoio às pequenas e médias empresas, o que faz todo o sentido. Primeiro, porque são elas que, no
mundo todo, criam mais empregos.
Segundo, porque podem de fato, como
quer o ministro, tornar-se exportadoras, com o devido incentivo.
Têm, em tese, mais flexibilidade para descobrir e conquistar nichos de
mercado, ao contrário das grandes,
em geral multinacionais, atadas às diretrizes traçadas pelas matrizes.
Pena que o ministro revele tanto medo da palavra proteção, tornada maldita pela ideologia hoje hegemônica.
Proteção, em si, não é um bem ou um
mal. Depende da finalidade.
Proteger o produtor para que se torne ineficiente é bobagem. Mas proteger um setor para que nasça ou floresça com robustez e se torne internacionalmente competitivo é algo que meio
mundo faz. Não raro, funciona.
Por que temer a palavra proteção, se
quase todos os países a adotam? Para
citar um só exemplo: a embaixada
brasileira nos EUA editou livreto de
92 páginas listando as barreiras ao
acesso de produtos e serviços brasileiros no mercado norte-americano.
Se é assim no país que se orgulha,
com certa razão, de ser o mais aberto
do mundo, por que o Brasil deveria ser
o tonto de plantão que não se protege?
A propósito: em agosto de 98, o Departamento de Comércio norte-americano publicou aviso pedindo sugestões
dos interessados sobre a posição que
os EUA devem defender na Conferência Ministerial da OMC (Organização
Mundial do Comércio), que vai se realizar em novembro/dezembro próximos e abrirá novo ciclo de discussões
comerciais planetárias.
Quinze meses antes, eles estão se preparando, certamente não para abrir
mais seus mercados (ao menos não
sem grandes contrapartidas). E o Brasil se protege como?
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