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Construindo
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Construir uma sociedade mais humana é a grande expectativa para o
novo milênio. Há metas a alcançar
que exigem, no entanto, um empenho
lúcido e persistente na educação da juventude e na mudança de nossos hábitos e comportamentos.
1) Precisamos aprender a conviver
com estima e respeito de uns pelos outros. Isso requer o reconhecimento, à
luz de Deus, da dignidade própria e
dos demais. Há notáveis diferenças no
modo de pensar e agir entre as raízes
culturais, entre as crenças religiosas.
Temos, assim, que crescer na compreensão dos outros, na tolerância e
na busca conjunta da verdade. A partir da própria identidade, somos chamados a intensificar o diálogo para
oferecermos e recebermos os valores
que possuímos.
Numa sociedade marcada pela democracia e pelo voto, há o risco de
confundir a posição majoritária com a
verdade. Daí a necessidade de nos
educarmos para o discernimento conjunto da verdade e dos valores fundamentais da pessoa. Essa atitude evitará a dominação, as injustiças impostas
às minorias, corrigirá distorções dos
processos aparentemente democráticos e os equívocos na defesa e promoção de direitos humanos. Basta considerar, por falta de critério, a discordância que há quando as mesmas pessoas propugnam o direito humano à
vida e contra a tortura e, por outro lado, não agem coerentemente em relação ao aborto, que elimina vidas inocentes e indefesas. Como educar para
a verdade e o uso adequado da liberdade? Há muito o que construir.
2) O século 20 deixou-nos uma herança de enormes injustiças sociais,
agravadas pelo neoliberalismo, pela
globalização mal concebida e pela triste realidade de grandes porções da humanidade, na fome e na miséria. A
nossa resposta para o novo milênio só
pode ser a educação para a solidariedade. Com efeito, como vencer as atitudes de egoísmo, a acumulação descontrolada de bens, o consumismo
que se alimenta da atração pelo supérfluo? Como tornar-se sensível às necessidades dos desempregados e dos
pobres?
Aqui surge a urgência da educação
para a partilha e o desejo de fazer o
bem. As recentes inundações em vários pontos do Brasil mostram como
ainda há, em nosso povo, reservas de
generosidade e vontade sincera de aliviar o sofrimento dos flagelados. Como conseguir que essa abertura de coração seja constante e fundamente
uma sociedade solidária em que a todos sejam garantidas as condições
dignas de vida?
3) Para construirmos esse novo relacionamento, é, no entanto, indispensável ter presente o horizonte da
transcendência para além da brevidade da vida. A nossa permanência nesta
terra é fugaz e deve nos levar ao desapego dos bens materiais e à prioridade
dos valores perenes: a presença e a
confiança filial em Deus, a busca do
bem do próximo e a atitude de reconciliação. Aqui está, sem dúvida, a conquista mais importante e que dá sentido à vida, mesmo em meio aos sofrimentos e revezes.
A confiança em Deus fortalece em
nós a esperança de vida eterna e feliz e
a vontade de lutar neste mundo pela
concórdia e pela justiça.
Seremos capazes de construir este
novo tipo de sociedade?
O jubileu do ano 2000 lança um forte
apelo para a conversão pessoal, o perdão das dívidas e a paz entre os povos.
Tenhamos, no entanto, presente a palavra do salmista (Sal. 126) sobre a necessidade da proteção divina para a
edificação da casa. O mesmo vale para
a construção da tão almejada sociedade, que só se fará com a união de esforços e a ação de Deus.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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