São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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Construindo

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Construir uma sociedade mais humana é a grande expectativa para o novo milênio. Há metas a alcançar que exigem, no entanto, um empenho lúcido e persistente na educação da juventude e na mudança de nossos hábitos e comportamentos.
1) Precisamos aprender a conviver com estima e respeito de uns pelos outros. Isso requer o reconhecimento, à luz de Deus, da dignidade própria e dos demais. Há notáveis diferenças no modo de pensar e agir entre as raízes culturais, entre as crenças religiosas. Temos, assim, que crescer na compreensão dos outros, na tolerância e na busca conjunta da verdade. A partir da própria identidade, somos chamados a intensificar o diálogo para oferecermos e recebermos os valores que possuímos.
Numa sociedade marcada pela democracia e pelo voto, há o risco de confundir a posição majoritária com a verdade. Daí a necessidade de nos educarmos para o discernimento conjunto da verdade e dos valores fundamentais da pessoa. Essa atitude evitará a dominação, as injustiças impostas às minorias, corrigirá distorções dos processos aparentemente democráticos e os equívocos na defesa e promoção de direitos humanos. Basta considerar, por falta de critério, a discordância que há quando as mesmas pessoas propugnam o direito humano à vida e contra a tortura e, por outro lado, não agem coerentemente em relação ao aborto, que elimina vidas inocentes e indefesas. Como educar para a verdade e o uso adequado da liberdade? Há muito o que construir.
2) O século 20 deixou-nos uma herança de enormes injustiças sociais, agravadas pelo neoliberalismo, pela globalização mal concebida e pela triste realidade de grandes porções da humanidade, na fome e na miséria. A nossa resposta para o novo milênio só pode ser a educação para a solidariedade. Com efeito, como vencer as atitudes de egoísmo, a acumulação descontrolada de bens, o consumismo que se alimenta da atração pelo supérfluo? Como tornar-se sensível às necessidades dos desempregados e dos pobres?
Aqui surge a urgência da educação para a partilha e o desejo de fazer o bem. As recentes inundações em vários pontos do Brasil mostram como ainda há, em nosso povo, reservas de generosidade e vontade sincera de aliviar o sofrimento dos flagelados. Como conseguir que essa abertura de coração seja constante e fundamente uma sociedade solidária em que a todos sejam garantidas as condições dignas de vida?
3) Para construirmos esse novo relacionamento, é, no entanto, indispensável ter presente o horizonte da transcendência para além da brevidade da vida. A nossa permanência nesta terra é fugaz e deve nos levar ao desapego dos bens materiais e à prioridade dos valores perenes: a presença e a confiança filial em Deus, a busca do bem do próximo e a atitude de reconciliação. Aqui está, sem dúvida, a conquista mais importante e que dá sentido à vida, mesmo em meio aos sofrimentos e revezes.
A confiança em Deus fortalece em nós a esperança de vida eterna e feliz e a vontade de lutar neste mundo pela concórdia e pela justiça.
Seremos capazes de construir este novo tipo de sociedade?
O jubileu do ano 2000 lança um forte apelo para a conversão pessoal, o perdão das dívidas e a paz entre os povos. Tenhamos, no entanto, presente a palavra do salmista (Sal. 126) sobre a necessidade da proteção divina para a edificação da casa. O mesmo vale para a construção da tão almejada sociedade, que só se fará com a união de esforços e a ação de Deus.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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