São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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EM PÓLOS OPOSTOS

Uma polarização de dois níveis emerge da pesquisa Datafolha publicada hoje. O prefeito de São Paulo e o presidente da República consolidam-se, em relação aos demais cotados, na preferência dos brasileiros. Essa contraposição, por sua vez, se baseia em uma divisão por renda mais nítida entre os eleitores. José Serra avançou oito pontos percentuais entre os que ganham mais de 10 salários mínimos mensais; Luiz Inácio Lula da Silva obteve mais 4 pontos entre os que têm rendimentos de até 5 mínimos.
O maior impacto da sondagem, a oito meses do primeiro turno, será nas negociações dos partidos para definir as principais chapas. As principais incógnitas são três: quem será o candidato tucano; quem se aliará a Lula; que curso seguirá o PMDB.
Quanto ao presidente da República, a pesquisa confirma que as suas chances eleitorais aumentaram após terem atingido um pico de baixa no final de 2005. Das intenções de voto para o primeiro turno, o presidente angariava 29% (com Serra na disputa) e 30% (com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin) na avaliação de 15 de dezembro. Agora obtém 33% e 36%, respectivamente.
A performance de Lula na simulação de segundo turno também melhorou. Era batido por Serra na pesquisa de dezembro por 14 pontos percentuais. A margem favorável ao tucano, 50 dias depois, veio a 8 pontos. Lula saiu do empate técnico contra Alckmin e agora o venceria com 9 pontos percentuais de margem.
Essa melhora do presidente vai ser incensada ao máximo nas hostes governistas para tentar atrair o PMDB. Mas pelo menos dois fatores vão seguir pesando consideravelmente contra Lula. Continua vasta a sua vulnerabilidade a ataques de campanha no aspecto da moralidade pública; dificilmente voltará a ser a aposta segura para o segundo mandato que era antes da crise do "mensalão".
Para a definição do nome que encarnará a candidatura do PSDB, o Datafolha traz dados importantes. O notável avanço de Alckmin de outubro para dezembro -subiu seis pontos percentuais, atingindo 22% das preferências para o primeiro turno- não se repetiu. Apesar de um mês de exposição ostensiva de sua pré-candidatura, o governador estacou; oscilou para 20% no turno inicial e já perde de Lula no final.
José Serra também manteve inalterado seu percentual de preferências. Permanece -na comparação com Alckmin válida apenas no cenário de hoje- na condição de candidato mais competitivo dos tucanos. Mas a estatística também traz ao menos um constrangimento novo para Serra. A melhora de Lula indica que não há por ora tendência rumo a um amplo favoritismo do ex-ministro da Saúde, o que aumenta o risco da decisão de deixar a Prefeitura de São Paulo aos 15 meses de mandato.
Alckmin, além de continuar a bater na tecla de seu potencial de crescimento futuro, deve começar a sugerir que é o melhor candidato do partido até mesmo na hipótese de uma derrota na disputa pelo Planalto. Se Serra deixar o governo municipal e perder a Presidência, o impacto da derrota, pessoal e para a legenda, será muito maior do que na hipótese de o governador encabeçar a chapa.
Diante do quadro que se apresenta para os tucanos, não erra quem avalia que a seqüência desse jogo está nas mãos de José Serra. Se decidir que será o candidato, dificilmente encontrará obstáculo à aclamação. Mas poucas vezes na história política recente uma decisão pessoal esteve tão carregada de riscos.


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