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EM PÓLOS OPOSTOS
Uma polarização de dois níveis emerge da pesquisa Datafolha publicada hoje. O prefeito de
São Paulo e o presidente da República consolidam-se, em relação aos demais cotados, na preferência dos
brasileiros. Essa contraposição, por
sua vez, se baseia em uma divisão
por renda mais nítida entre os eleitores. José Serra avançou oito pontos
percentuais entre os que ganham
mais de 10 salários mínimos mensais; Luiz Inácio Lula da Silva obteve
mais 4 pontos entre os que têm rendimentos de até 5 mínimos.
O maior impacto da sondagem, a
oito meses do primeiro turno, será
nas negociações dos partidos para
definir as principais chapas. As principais incógnitas são três: quem será
o candidato tucano; quem se aliará a
Lula; que curso seguirá o PMDB.
Quanto ao presidente da República, a pesquisa confirma que as suas
chances eleitorais aumentaram após
terem atingido um pico de baixa no
final de 2005. Das intenções de voto
para o primeiro turno, o presidente
angariava 29% (com Serra na disputa) e 30% (com o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin) na avaliação de 15 de dezembro. Agora obtém
33% e 36%, respectivamente.
A performance de Lula na simulação de segundo turno também melhorou. Era batido por Serra na pesquisa de dezembro por 14 pontos
percentuais. A margem favorável ao
tucano, 50 dias depois, veio a 8 pontos. Lula saiu do empate técnico contra Alckmin e agora o venceria com 9
pontos percentuais de margem.
Essa melhora do presidente vai ser
incensada ao máximo nas hostes governistas para tentar atrair o PMDB.
Mas pelo menos dois fatores vão seguir pesando consideravelmente
contra Lula. Continua vasta a sua vulnerabilidade a ataques de campanha
no aspecto da moralidade pública;
dificilmente voltará a ser a aposta segura para o segundo mandato que
era antes da crise do "mensalão".
Para a definição do nome que encarnará a candidatura do PSDB, o
Datafolha traz dados importantes. O
notável avanço de Alckmin de outubro para dezembro -subiu seis
pontos percentuais, atingindo 22%
das preferências para o primeiro turno- não se repetiu. Apesar de um
mês de exposição ostensiva de sua
pré-candidatura, o governador estacou; oscilou para 20% no turno inicial e já perde de Lula no final.
José Serra também manteve inalterado seu percentual de preferências.
Permanece -na comparação com
Alckmin válida apenas no cenário de
hoje- na condição de candidato
mais competitivo dos tucanos. Mas a
estatística também traz ao menos
um constrangimento novo para Serra. A melhora de Lula indica que não
há por ora tendência rumo a um amplo favoritismo do ex-ministro da
Saúde, o que aumenta o risco da decisão de deixar a Prefeitura de São
Paulo aos 15 meses de mandato.
Alckmin, além de continuar a bater
na tecla de seu potencial de crescimento futuro, deve começar a sugerir que é o melhor candidato do partido até mesmo na hipótese de uma
derrota na disputa pelo Planalto. Se
Serra deixar o governo municipal e
perder a Presidência, o impacto da
derrota, pessoal e para a legenda, será muito maior do que na hipótese de
o governador encabeçar a chapa.
Diante do quadro que se apresenta
para os tucanos, não erra quem avalia que a seqüência desse jogo está
nas mãos de José Serra. Se decidir
que será o candidato, dificilmente
encontrará obstáculo à aclamação.
Mas poucas vezes na história política
recente uma decisão pessoal esteve
tão carregada de riscos.
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