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VINICIUS MOTA
Idade da pedra (e da roça)
SÃO PAULO - Ferro, soja, carne,
cana, laranja, celulose, café, algodão. As atividades em torno de uma
cesta de produtos não muito maior
que essa vão determinando a economia política no Brasil. Desde
2003, o segmento agromineral acumulou um saldo em moeda estrangeira de uns US$ 150 bilhões.
Essa montanha de dinheiro estabilizou o país. Acabaram as crises
no mundo todo, mas a imunização
brasileira tomou a forma específica
de um espetáculo no campo e no
subsolo. Isso faz diferença.
Na segunda metade da gestão Lula, essa fabulosa corrente de dólares
começou a separar vencedores de
vencidos na economia e na sociedade. O Banco Central pôs-se a estrangular a oferta de reais a partir
do final de 2004, e daí por diante a
moeda nacional triunfou sobre a
americana. Quem estava distante
do circuito rural e mineral (basicamente a indústria) pagou a conta.
Nesse momento as águas se dividiram: ao freio nas manufaturas,
nos empregos e no PIB se sobrepôs
o avanço no distributivismo estatal.
A comunhão entre uma vertente liberal e outra esquerdista foi selada.
O vaticínio da primeira -o Brasil
depurado como fornecedor de mercadorias primitivas ao mundo, expressão cabal da teoria das vantagens comparativas- convergiu
com a utopia da segunda -nos escombros da era industrial, o Estado
deve substituir, com o dinheiro dos
tributos, a renda que o mercado de
trabalho já não pode propiciar.
O galope da assistência social no
Brasil está em harmonia com a
emergência da roça e da pedra na
economia. Numa democracia de
renda per capita modesta, com 160
milhões de pessoas vivendo em cidades, o gigantismo estatal é resposta protocolar à concentração do
poder econômico num punhado de
setores que pouco empregam.
Esse conúbio entre interesse,
ideologia e preguiça não tem data
para terminar. A bonança global
permite que siga entregando crescimento baixo e anestesiando conflitos por um bom tempo -sem crise.
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