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Risco de alta
Ata do Copom sugere que o BC está pronto para aumentar os juros e evidencia a necessidade
de controle de gastos
A ATA RELATIVA à reunião
de janeiro do Comitê
de Política Monetária
(Copom), quando foi
mantida a taxa de juros em
8,75% ao ano, deixa claro que o
Banco Central vê riscos crescentes para o cumprimento da meta
de inflação e está pronto para
iniciar um novo ciclo de alta da
Selic. A dúvida resume-se ao momento: março ou abril.
A avaliação apresentada ontem pelo BC está ancorada no
forte ritmo de crescimento da
economia esperado para 2010,
que ameaçaria o controle da inflação dentro da meta anual de
4,5%. Os efeitos defasados da
queda de juros do ano passado, o
enorme aumento dos gastos do
governo e o dinamismo do crédito público são os principais fatores de risco elencados. A alta de
algumas commodities e a recente desvalorização do real são fatores adicionais de incerteza.
É claro que há riscos de inflação e o BC está, como sempre,
preparado para responder caso
se manifestem com mais intensidade. Mas é preciso cautela, pois
o momento ainda é de indefinição. Por várias razões.
A principal é que o ritmo da
economia esperado para 2010,
apesar de forte, pode não se mostrar excessivo. A rápida retomada do segundo semestre do ano
passado refletiu em parte uma
compensação do colapso do final
de 2008, fase mais aguda da crise
global. Foi ainda impulsionada
pelos incentivos fiscais, que agora serão encerrados.
É possível que haja alguma
acomodação, como sugere a queda na produção industrial nos últimos dois meses de 2009. As indicações preliminares da indústria automobilística e de outros
setores são de que janeiro não foi
muito diferente. A inflação de
commodities, grande vilã do último ciclo de alta, é bem mais tímida desta vez. Os dados de emprego mostraram também algum arrefecimento em dezembro.
O crédito para as empresas
-exceção aos empréstimos bilionários do BNDES para grandes corporações eleitas pelo governo- tem tido crescimento tímido e há ainda folga de capacidade ociosa da indústria. Aguardar até depois de março seria recomendável para não impor custos desnecessários ao país.
As incertezas quanto ao rumo
da política de juros colocam em
evidência um dos grandes problemas da gestão econômica do
atual governo: a falta de coordenação entre as decisões fiscais e
monetárias -desencontro que já
vem de longe, mas foi agravado
no contexto pós-crise.
O governo usou a ameaça recessiva como argumento para
agigantar a já inflada máquina
pública e para estender os tentáculos do Estado a numerosos setores da economia. Agora o ministro da Fazenda tenta, talvez
tardiamente, convencer o BC de
que haverá mais responsabilidade com os gastos públicos. O
anúncio de que cumprirá a meta
de 3,3% de superavit primário
para 2010 tem o claro objetivo de
adiar o aumento de juros.
Mais do que tática de curto
prazo, é de esperar que o aceno
da Fazenda reflita a consciência
de que a principal dificuldade para manter os juros baixos de forma sustentável é o apetite insaciável do governo.
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