São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Risco de alta

Ata do Copom sugere que o BC está pronto para aumentar os juros e evidencia a necessidade de controle de gastos

A ATA RELATIVA à reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), quando foi mantida a taxa de juros em 8,75% ao ano, deixa claro que o Banco Central vê riscos crescentes para o cumprimento da meta de inflação e está pronto para iniciar um novo ciclo de alta da Selic. A dúvida resume-se ao momento: março ou abril.
A avaliação apresentada ontem pelo BC está ancorada no forte ritmo de crescimento da economia esperado para 2010, que ameaçaria o controle da inflação dentro da meta anual de 4,5%. Os efeitos defasados da queda de juros do ano passado, o enorme aumento dos gastos do governo e o dinamismo do crédito público são os principais fatores de risco elencados. A alta de algumas commodities e a recente desvalorização do real são fatores adicionais de incerteza.
É claro que há riscos de inflação e o BC está, como sempre, preparado para responder caso se manifestem com mais intensidade. Mas é preciso cautela, pois o momento ainda é de indefinição. Por várias razões.
A principal é que o ritmo da economia esperado para 2010, apesar de forte, pode não se mostrar excessivo. A rápida retomada do segundo semestre do ano passado refletiu em parte uma compensação do colapso do final de 2008, fase mais aguda da crise global. Foi ainda impulsionada pelos incentivos fiscais, que agora serão encerrados.
É possível que haja alguma acomodação, como sugere a queda na produção industrial nos últimos dois meses de 2009. As indicações preliminares da indústria automobilística e de outros setores são de que janeiro não foi muito diferente. A inflação de commodities, grande vilã do último ciclo de alta, é bem mais tímida desta vez. Os dados de emprego mostraram também algum arrefecimento em dezembro.
O crédito para as empresas -exceção aos empréstimos bilionários do BNDES para grandes corporações eleitas pelo governo- tem tido crescimento tímido e há ainda folga de capacidade ociosa da indústria. Aguardar até depois de março seria recomendável para não impor custos desnecessários ao país.
As incertezas quanto ao rumo da política de juros colocam em evidência um dos grandes problemas da gestão econômica do atual governo: a falta de coordenação entre as decisões fiscais e monetárias -desencontro que já vem de longe, mas foi agravado no contexto pós-crise.
O governo usou a ameaça recessiva como argumento para agigantar a já inflada máquina pública e para estender os tentáculos do Estado a numerosos setores da economia. Agora o ministro da Fazenda tenta, talvez tardiamente, convencer o BC de que haverá mais responsabilidade com os gastos públicos. O anúncio de que cumprirá a meta de 3,3% de superavit primário para 2010 tem o claro objetivo de adiar o aumento de juros.
Mais do que tática de curto prazo, é de esperar que o aceno da Fazenda reflita a consciência de que a principal dificuldade para manter os juros baixos de forma sustentável é o apetite insaciável do governo.


Próximo Texto: Editoriais: Pagamento devido

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.