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ANTONIO DELFIM NETTO
Ninho de paradoxos
O CAOS TRIBUTÁRIO e o aumento da carga de impostos
dos últimos 20 anos não são
produtos do acaso. Numa larga medida, resultam dos desejos da sociedade brasileira explicitados na
Constituinte de 1988. O momento
foi impróprio: havia ainda a disfuncional polarização política entre os
EUA e a URSS. A composição da
Constituinte foi uma tragédia ideológica produzida pela vitória esmagadora do governo no rastro do sucesso inicial do Plano Cruzado. Na
área econômica, a teoria transformara-se no pior instrumento de
convencimento. No pensamento
"ilustrado" da maioria dos constituintes, o socialismo seria o estado
superior do capitalismo! O resto
era "direita" e errado...
O resultado final foi um ninho de
paradoxos. Um capítulo dos direitos individuais que é uma pequena
jóia. Um capítulo dos direitos sociais generoso e à altura dos melhores Estados do Bem-Estar se tivéssemos uma renda per capita quatro
vezes maior do que temos. As disposições relativas às instituições
propícias a dar maior eficácia ao
sistema produtivo revelam, entretanto, uma miopia gritante.
Vinte anos depois, o governo toma novamente a iniciativa de sugerir ao Congresso uma reforma tributária.
O projeto é competente
-e o momento é propício-, mas
não tem como atacar o fulcro da
questão: o lamentável exagero da
carga tributária bruta (cerca de
37%) quando comparada com países com a nossa renda per capita
(entre 20% e 24%). Combinada
com a evidente ineficiência do Estado, ela explica por que os brasileiros têm os serviços públicos
mais caros do mundo.
Deve ser claro que não estamos
diante de um problema técnico,
mas de um problema político de
distribuição do poder entre os três
níveis da Federação. Ele se manifesta no nível da apropriação de recursos que cada um tenta obter. É
por isso que uma eficaz reforma
tributária deveria ser precedida:
1º) por uma melhora da "produtividade" e da "qualidade" dos serviços
do Estado (União, Estados e municípios) que tornasse possível a diminuição da carga tributária e 2º)
por um programa permanente e
crível de redução das disparidades
regionais que foram esquecidas
nos últimos anos.
A chamada "guerra fiscal" é simplesmente o nome feio para as medidas "ad hoc" que os Estados menos desenvolvidos (que têm maioria no Senado) escolheram para reduzir as desigualdades regionais
que o mercado é incapaz de fazer.
Promessas dificilmente os convencerão a entregar a pequena liberdade fiscal que ainda lhes resta. Eles
têm uma larga e amarga experiência sobre o comportamento da
União...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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