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RUY CASTRO
Esperando sentado
RIO DE JANEIRO - Foi há 50
anos, e serve para a história do Carnaval, da política brasileira ou de
ambas, que, muitas vezes -com todo o respeito pelo Carnaval-, são a
mesma coisa. Um tema recorrente
das escolas de samba do Rio no Carnaval de 1960 foi a mudança da capital para Brasília, marcada para
abril daquele ano. Várias escolas
dos três grupos desfilaram pela Presidente Vargas com enredos em
exaltação a Juscelino, aos supostos
novos tempos e ao gigante que enfim despertava, leia-se Brasil.
Brasília era a "Novacap", nome de
uma empresa e jeito modernoso de
chamar a nova capital. Donde o Rio
passava a ser a "Velhacap"", que não
pegou, ou a "Belacap", significando
que continuaria lindo e capital. O
fato é que, se até as escolas de samba estavam celebrando a mudança,
era porque o carioca a apoiava, exceto os funcionários públicos,
ameaçados de ter de mudar para as
breubas do Planalto Central.
O carioca via na mudança a única
maneira de se livrar daquele hóspede grosseiro e folgado, o poder central, que o impedia, havia mais de
200 anos, de decidir seus destinos.
Por ser sede deste poder, o Rio não
podia eleger um reles prefeito para
cuidar de seus problemas. Pois, de
repente, iria se tornar dono de seu
nariz, como cidade ou como cidade-Estado. Que a capital fosse para
Brasília, e já ia tarde.
Alguns alertaram para os prejuízos que o Rio sofreria quase de imediato, com a saída dos ministérios,
das autarquias e das representações
estrangeiras. Mas todos confiavam
em que essa perda se daria aos poucos e que Brasília compensaria o
Rio com medidas que estimulassem
sua vocação industrial, turística e
de serviços.
Até hoje o Rio espera sentado por
essas medidas. Razão pela qual, em
2010, uma única escola de samba
exaltou os 50 anos de Brasília e,
mesmo assim, sendo muito bem
paga para isso.
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