São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2010

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RUY CASTRO

Esperando sentado

RIO DE JANEIRO - Foi há 50 anos, e serve para a história do Carnaval, da política brasileira ou de ambas, que, muitas vezes -com todo o respeito pelo Carnaval-, são a mesma coisa. Um tema recorrente das escolas de samba do Rio no Carnaval de 1960 foi a mudança da capital para Brasília, marcada para abril daquele ano. Várias escolas dos três grupos desfilaram pela Presidente Vargas com enredos em exaltação a Juscelino, aos supostos novos tempos e ao gigante que enfim despertava, leia-se Brasil.
Brasília era a "Novacap", nome de uma empresa e jeito modernoso de chamar a nova capital. Donde o Rio passava a ser a "Velhacap"", que não pegou, ou a "Belacap", significando que continuaria lindo e capital. O fato é que, se até as escolas de samba estavam celebrando a mudança, era porque o carioca a apoiava, exceto os funcionários públicos, ameaçados de ter de mudar para as breubas do Planalto Central.
O carioca via na mudança a única maneira de se livrar daquele hóspede grosseiro e folgado, o poder central, que o impedia, havia mais de 200 anos, de decidir seus destinos. Por ser sede deste poder, o Rio não podia eleger um reles prefeito para cuidar de seus problemas. Pois, de repente, iria se tornar dono de seu nariz, como cidade ou como cidade-Estado. Que a capital fosse para Brasília, e já ia tarde.
Alguns alertaram para os prejuízos que o Rio sofreria quase de imediato, com a saída dos ministérios, das autarquias e das representações estrangeiras. Mas todos confiavam em que essa perda se daria aos poucos e que Brasília compensaria o Rio com medidas que estimulassem sua vocação industrial, turística e de serviços.
Até hoje o Rio espera sentado por essas medidas. Razão pela qual, em 2010, uma única escola de samba exaltou os 50 anos de Brasília e, mesmo assim, sendo muito bem paga para isso.


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