A escalada autoritária do presidente de todas as Rússias, Vladimir Putin, segue vasta. Putin ditou, e o Parlamento aprovou em primeira leitura, um projeto de lei que cria uma série de restrições a manifestações em público. Como, por causa de outras manobras, a presença da oposição no Legislativo é apenas simbólica, é praticamente certo que a proposta será sancionada, e os russos perderão em breve o direito de reunir-se pacificamente.
Pelo projeto, ficarão proibidas manifestações diante de prédios públicos, embaixadas, escritórios de organizações internacionais, escolas, hospitais, estádios, teatros e templos religiosos. A interdição é extensiva a "ruas importantes", fábricas e oleodutos. Em suma, só poderão ocorrer protestos nos lugares que o governo designar, o que significa dizer que serão mais difíceis as manifestações contrárias ao Kremlin.
Governos autoritários não são uma novidade na Rússia, que saltou da autocracia dos czares para a ditadura de partido único do regime comunista. Apesar de alguns avanços democráticos sob a gestão de Mikhail Gorbatchov (1985-91), foi só após o colapso da União Soviética que os russos experimentaram de verdade alguns ares da democracia. Mas, a persistir a rota seguida por Putin, a vivência democrática russa será, infelizmente, muito curta.
Para além da idéia de dificultar manifestações contra o governo, o presidente já silenciou praticamente toda a mídia que não lhe era favorável e perseguiu implacavelmente seus adversários políticos. Isso sem mencionar o problema do respeito aos direitos, que vêm sendo perigosamente ignorados na guerra na Tchetchênia.
O fato de o autoritarismo russo ter explicações históricas não significa que o Ocidente deva aceitá-lo. Países e organizações que lidam com o governo russo têm um papel crucial a desempenhar na cobrança de respeito às instituições democráticas.


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