São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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DE TIRANO A RÉU

O mundo será um lugar mais justo depois que Charles Taylor for julgado e condenado por seus crimes. Entre 1989 e 2003, o ex-presidente da Libéria fomentou vários conflitos no oeste da África. O número de mortos nas guerras em que ele se envolveu é estimado em 500 mil. Muitos foram assassinados com notória crueldade.
Em seu regime de terror, Taylor apoiava bandos de rebeldes nos vizinhos Serra Leoa e Costa do Marfim. Tais grupos se celebrizaram por decepar com facões braços e pernas de suas vítimas, incluindo milhares de crianças. Em troca de seu auxílio, o ditador liberiano recebia diamantes dos rebeldes, com os quais financiava sua própria guerra doméstica.
Taylor responde agora por alguns de seus delitos no tribunal para crimes de guerra em Serra Leoa, que tem a participação da ONU. As 11 acusações que pesam contra ele incluem crimes de guerra, crimes contra a humanidade, assassinatos, violência física e sexual, recrutamento de crianças, escravidão e saques.
Por razões de segurança -ele ainda possui vários aliados na região-, governos do oeste da África defendem a transferência do julgamento de Taylor para a Holanda. Faz sentido. Não convém subestimar o potencial desestabilizador da simples presença do antigo senhor da guerra.
A captura e o julgamento de Taylor são por certo uma boa notícia. Mas só ocorrem devido a uma feliz -e rara- confluência de interesses. Desde 2003, o ex-ditador vivia sem ser incomodado na cidade de Calabar, na Nigéria. Só perdeu o direito a seu exílio dourado porque o presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, foi pressionado por Washington para entregar o tirano. E o mandatário nigeriano não quer descontentar a Casa Branca. Pode precisar do apoio norte-americano para tentar seu terceiro mandato presidencial.


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