São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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CLÓVIS ROSSI

13 milhões no buraco negro

SÃO PAULO - Tirando o Haiti, a Libéria do genocida Charles Taylor e algumas outras republiquetas similares, o Brasil é o único país do mundo em que 13 milhões de crianças somem da noite para o dia (ou, mais exatamente, entre um levantamento oficial e outro).
Refiro-me, como é óbvio, à diferença no número de matriculados na educação básica, pública e privada, entre o Censo Escolar de 2005 e os dados mais recentes enviados pelas prefeituras para compor o novo cadastro. No primeiro, os matriculados somavam 56,4 milhões. No segundo, apenas 43,2 milhões. Sumiram, portanto, 13,2 milhões.
Pior: não há ainda uma explicação definitiva para a brutal diferença. Como não se faz uma atualização cadastral ao longo do ano, pode ter ocorrido que 13 milhões abandonaram a escola entre a matrícula, no início do ano, e o final das aulas.
Ou as prefeituras podem ter inchado o cadastro para receberem mais verbas federais, cuja redistribuição se dá, como é óbvio, em função do número de alunos.
Qualquer que seja a explicação, aponta para um problemão. Ou 20% dos alunos fogem da escola entre o início e o fim do ano letivo, o que é uma brutalidade, ou as prefeituras aplicam uma espécie de caixa dois, no que, aliás, estariam perfeitamente sintonizadas com hábitos do PT.
Ou então há uma terceira explicação. Ou quarta ou quinta.
O que fica evidente é que não dá para confiar em estatística alguma num país em que há um erro de 13 milhões de seres humanos em um levantamento limitado às escolas.
Se é assim em apenas um setor, o que não haverá de erro em levantamentos feitos em universo mais amplo? Se o brasileiro nem sabe que país realmente tem, como pode saber que país construir?

@ - crossi@uol.com.br


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