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CLÓVIS ROSSI
13 milhões no buraco negro
SÃO PAULO - Tirando o Haiti, a Libéria do genocida Charles Taylor e
algumas outras republiquetas similares, o Brasil é o único país do mundo
em que 13 milhões de crianças somem da noite para o dia (ou, mais
exatamente, entre um levantamento
oficial e outro).
Refiro-me, como é óbvio, à diferença no número de matriculados na
educação básica, pública e privada,
entre o Censo Escolar de 2005 e os dados mais recentes enviados pelas prefeituras para compor o novo cadastro. No primeiro, os matriculados somavam 56,4 milhões. No segundo,
apenas 43,2 milhões. Sumiram, portanto, 13,2 milhões.
Pior: não há ainda uma explicação
definitiva para a brutal diferença.
Como não se faz uma atualização cadastral ao longo do ano, pode ter
ocorrido que 13 milhões abandonaram a escola entre a matrícula, no
início do ano, e o final das aulas.
Ou as prefeituras podem ter inchado o cadastro para receberem mais
verbas federais, cuja redistribuição se
dá, como é óbvio, em função do número de alunos.
Qualquer que seja a explicação,
aponta para um problemão. Ou 20%
dos alunos fogem da escola entre o
início e o fim do ano letivo, o que é
uma brutalidade, ou as prefeituras
aplicam uma espécie de caixa dois,
no que, aliás, estariam perfeitamente
sintonizadas com hábitos do PT.
Ou então há uma terceira explicação. Ou quarta ou quinta.
O que fica evidente é que não dá
para confiar em estatística alguma
num país em que há um erro de 13
milhões de seres humanos em um levantamento limitado às escolas.
Se é assim em apenas um setor, o
que não haverá de erro em levantamentos feitos em universo mais amplo? Se o brasileiro nem sabe que país
realmente tem, como pode saber que
país construir?
@ - crossi@uol.com.br
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