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MELCHIADES FILHO
Muitas interrogações
BRASÍLIA - Por que a Casa Civil
só foi remexer no arquivo morto
dos gastos secretos de FHC em fevereiro, quando o Congresso discutia a instalação de uma CPI para
apurar despesas da Presidência de
Lula?
Qual foi o objetivo das reuniões
entre arquivistas e assessores de
Dilma Rousseff entre 8 e 18 de fevereiro? A que levantamento a ministra da Casa Civil se referia quando
contou a empresários, no dia 20 do
mesmo mês, que já tinha munição
para que o governo "não apanhasse
sozinho"? Por que sua secretária-executiva, Erenice Guerra, não vem
a público e nega que tenha ordenado a encomenda do dossiê?
Por que o Planalto não protestou
quando detalhes do conteúdo do
dossiê foram noticiados, em conta-gotas, nos dias anteriores à criação
da CPI, quando interessava ao governo intimidar a oposição? Por
que agiu apenas após a revelação de
que a Casa Civil formatou esse arquivo exclusivo sobre os tucanos?
Que funcionários têm acesso a ele?
Já que a divulgação de gastos sigilosos é crime, por que a Polícia Federal ainda não entrou no caso? Por
que ela não poderia investigar a
confecção do dossiê também?
São perguntas simples. As respostas poderiam ajudar a Casa Civil
a se defender. O governo, porém,
nega-se diariamente a fornecê-las.
Empenhado em poupar a "mãe
do PAC", o Planalto até ontem usou
intermediários para lançar versões
que variam em tudo, menos na inconsistência. A entrada em cena da
própria Dilma, que poderia marcar
uma inflexão, não fez diferença. A
ministra conseguiu a façanha de
negar tudo e não descartar nada.
De novidade, tornou oficial a caça
de araque ao "espião" ou "invasor"
que, ao vazar trechos do dossiê, tornou pública a trincheira de contra-informação montada no palácio.
A estratégia de comunicação de
Lula atolou-se de vez no jogo político. Abandonou o "ele não sabia" e
agora oscila entre tergiversações e o
"nada a declarar" da ditadura.
mfilho@folhasp.com.br
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