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Sorrisos em Londres
Encerrada com promessa de mudanças, cúpula do G20 acentua papel positivo do Brasil e de
Lula no quadro mundial
D
EPRESSÃO e euforia, segundo uma observação corrente, costumam alternar-se na
mentalidade dos brasileiros. O
ciclo das expectativas e das frustrações parece agora ter deixado
de ser exclusividade nacional para se disseminar globalmente. Ao
menos é o que se pode depreender do clima entre as lideranças
das principais economias do
mundo, uma vez encerrada a
reunião do G20 em Londres, na
última quinta-feira.
Não que tenham mudado, por
certo, as avaliações pessimistas
quanto ao comportamento futuro da economia mundial. O acordo obtido, relativamente amplo,
fez, entretanto, com que o G20
terminasse em fogos de artifício
e sons de fanfarra oficial.
"É o fim do Consenso de Washington", celebrou o primeiro-ministro Gordon Brown, anfitrião do encontro.
Com menor respaldo na realidade, o documento oficial do
G20 anunciou também "o fim da
era do segredo bancário", o início
da "transição para uma economia verde" e a inauguração de
um sistema em que economias
emergentes e pobres terão mais
peso nas decisões mundiais.
É sempre saudável, em meio a
tantos festejos, guardar um espírito de ceticismo. Ao mesmo
tempo, do ponto de vista político, a própria retórica termina
exercendo um papel real.
Discursos antes impensáveis
se legitimam, novos consensos
se criam e, ainda que toda mudança histórica possa acabar
sendo menos profunda do que se
imaginava, a perspectiva de que
nada jamais se altera é tão irrealista quanto a de que tudo pode
ser mudado da noite para o dia.
Desse mesmo ponto de vista, é
sem negativismo, e também sem
euforia exagerada, que se deve
encarar o sucesso da participação brasileira -e da figura do
presidente Lula em particular-
no encontro do G20.
Lula foi reconhecido, mais
uma vez, como uma liderança carismática no cenário internacional. Tem, ademais, exercido um
papel moderador nesse contexto, que contrasta com a provocação populista e o dogmatismo
dos adversários mais estridentes
da ordem global.
Seu prestígio decorre, contudo, não apenas de sua personalidade flexível e pragmática, mas
sobretudo do papel que o Brasil
passou a exercer entre as maiores economias, e as maiores democracias, do mundo.
O Brasil é um dos principais
credores dos Estados Unidos, representa algum contrapeso ao
poder crescente da China e, juntamente com as outras nações
emergentes, tem hoje participação ponderável na recuperação
da economia mundial. Ao mesmo tempo, o predomínio econômico dos Estados Unidos no
quadro mundial passa por um
episódio de declínio.
O documento do G20 e as comemorações oficiais que o cercam refletem essa realidade.
Exageros retóricos à parte, o curso do mundo vai mudando devagar -e o Brasil encontra um novo lugar nessa transição.
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