São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Sorrisos em Londres

Encerrada com promessa de mudanças, cúpula do G20 acentua papel positivo do Brasil e de Lula no quadro mundial

D EPRESSÃO e euforia, segundo uma observação corrente, costumam alternar-se na mentalidade dos brasileiros. O ciclo das expectativas e das frustrações parece agora ter deixado de ser exclusividade nacional para se disseminar globalmente. Ao menos é o que se pode depreender do clima entre as lideranças das principais economias do mundo, uma vez encerrada a reunião do G20 em Londres, na última quinta-feira.
Não que tenham mudado, por certo, as avaliações pessimistas quanto ao comportamento futuro da economia mundial. O acordo obtido, relativamente amplo, fez, entretanto, com que o G20 terminasse em fogos de artifício e sons de fanfarra oficial.
"É o fim do Consenso de Washington", celebrou o primeiro-ministro Gordon Brown, anfitrião do encontro.
Com menor respaldo na realidade, o documento oficial do G20 anunciou também "o fim da era do segredo bancário", o início da "transição para uma economia verde" e a inauguração de um sistema em que economias emergentes e pobres terão mais peso nas decisões mundiais.
É sempre saudável, em meio a tantos festejos, guardar um espírito de ceticismo. Ao mesmo tempo, do ponto de vista político, a própria retórica termina exercendo um papel real.
Discursos antes impensáveis se legitimam, novos consensos se criam e, ainda que toda mudança histórica possa acabar sendo menos profunda do que se imaginava, a perspectiva de que nada jamais se altera é tão irrealista quanto a de que tudo pode ser mudado da noite para o dia.
Desse mesmo ponto de vista, é sem negativismo, e também sem euforia exagerada, que se deve encarar o sucesso da participação brasileira -e da figura do presidente Lula em particular- no encontro do G20.
Lula foi reconhecido, mais uma vez, como uma liderança carismática no cenário internacional. Tem, ademais, exercido um papel moderador nesse contexto, que contrasta com a provocação populista e o dogmatismo dos adversários mais estridentes da ordem global.
Seu prestígio decorre, contudo, não apenas de sua personalidade flexível e pragmática, mas sobretudo do papel que o Brasil passou a exercer entre as maiores economias, e as maiores democracias, do mundo.
O Brasil é um dos principais credores dos Estados Unidos, representa algum contrapeso ao poder crescente da China e, juntamente com as outras nações emergentes, tem hoje participação ponderável na recuperação da economia mundial. Ao mesmo tempo, o predomínio econômico dos Estados Unidos no quadro mundial passa por um episódio de declínio.
O documento do G20 e as comemorações oficiais que o cercam refletem essa realidade. Exageros retóricos à parte, o curso do mundo vai mudando devagar -e o Brasil encontra um novo lugar nessa transição.


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