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CARLOS HEITOR CONY
Já vimos este filme
RIO DE JANEIRO - Mais uma vez, Cacá Diegues, agora em entrevista a Arnaldo Bloch, denuncia a nova escalada do patrulhamento ideológico que
dominou o setor artístico nos anos de
repressão.
A atividade cultural sofreu, naquele sombrio período, o duplo policiamento do governo e das esquerdas
que, na impossibilidade de lutar
abertamente contra o regime, voltaram seus canhões e sua capacidade
midiática contra aqueles que não
obedeciam à estranhíssima tática do
velho Partidão.
Houve casos em que o mesmo cara
era preso pelo regime de direita e patrulhado pela esquerda. Poderia citar
alguns exemplos do duplo policiamento que tentou marginalizar alguns intelectuais e artistas. Poucos
resistiram e deram a volta por cima,
como Tom Jobim, cujo talento foi infinitamente maior do que as cobranças de um e de outro lado.
Cacá fez uma observação que julgo
fundamental. Subindo ao poder pela
massa expressiva de tantos votos e
alianças, o PT foi obrigado a moderar seu discurso, e não apenas moderar, mas a reformular alguns de seus
princípios históricos. Isso aconteceu
na economia, na administração em
geral, no próprio conceito de governo.
Contudo, um setor ficou atrelado
ao "ancien régime" dos petistas, justamente aquele que marcou quase
que exclusivamente a "luta" do Partidão contra o autoritarismo militar.
Cobrava-se do profissional da cultura um comprometimento social, uma
prioridade pela doutrinação moral e
cívica, moral e civismo que só o governo podia administrar.
Nesses primeiros meses de governo
petista, no campo da cultura começa
a ganhar nitidez a mesma opção, administrada pela força, pela caneta e
pelo dinheiro do Planalto, que apenas mudou de mãos, mas não de
mentalidade.
Já vimos esse filme, durante os anos
de chumbo e durante o governo Collor. Uma reprise indesejável.
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