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BORIS FAUSTO
Caminhos do PSDB
Reina um certo desconcerto na
direção do PSDB. A escolha de
um novo Diretório Nacional foi adiada e, sobretudo, não parece haver
muita clareza quanto aos rumos a seguir, a partir dos primeiros meses do
governo Lula. Sem pretender dar receitas, o que seria inadequado para
quem acompanha a vida política, mas
dela não participa diretamente, penso
que um caminho frutífero para o partido pode ser traçado olhando a atuação passada e presente do PT.
Em primeiro lugar, convém lembrar
que, quaisquer que sejam os excessos
de ênfase da direção petista na defesa
do princípio de obediência às decisões
partidárias, há algo aí a ser meditado e
aproveitado. O PSDB tem um déficit
de estrutura organizatória que o leva a
correr o risco de perder a fisionomia e
a considerar normais comportamentos partidários injustificáveis. O exemplo mais eloquente -nos últimos
tempos diga-se de passagem- é o do
senador Tasso Jereissati. Não obstante
o apoio dado a Ciro Gomes, opondo-se ao candidato do partido às eleições
presidenciais, jamais foi sequer advertido por esse procedimento, tudo se
passando como se nada tivesse acontecido.
Por outro lado, o PT revela características que representam o reverso do
papel que cabe a uma oposição responsável. A crua explicação dada para
o comportamento negativista com relação ao governo Fernando Henrique
e à atual mudança de rumos, pelo presidente Lula e o deputado João Paulo
Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, é um bom exemplo do que
uma oposição digna desse nome não
deve fazer: lançar bravatas, ou justificar o vale-tudo, na luta pelo poder.
Mas, ao mesmo tempo, quando o
novo governo avança positivamente
no terreno macroeconômico, com resultados palpáveis, e Lula revela uma
inegável capacidade de articulação,
penso que cabe ao PSDB apoiar esse
curso e as reformas propostas, deixando de lado as justas recriminações
quanto ao passado. Tanto mais quando se sabe que o rumo empreendido
sofre as críticas não apenas da banda
de música radical, mas de vozes com
maior peso na sociedade e nos partidos que compõem a aliança no poder,
aí incluindo o próprio PT.
O apoio ao rumo traçado até aqui
não significa acompanhar simplesmente o carro dos atuais governantes.
Significa, sim, sustentar o que deve ser
sustentado em nome do interesse nacional, da coerência de princípios, das
expectativas do eleitorado, sem prescindir da tarefa de mostrar que o caminho hoje seguido pelo governo não
decorre de uma suposta "herança
maldita", mas, pelo contrário, assenta-se nas significativas mudanças institucionais realizadas nos dois mandatos anteriores.
Além disso, ao lado das virtudes, um
extenso campo abre-se às críticas da
oposição. É só olhar para o foguetório
apressado do Fome Zero, os impasses
da educação, o populismo na Ciência
e Tecnologia, a politização de cargos
técnicos e outras coisas mais.
P.S.: Em viagem ao exterior, estarei
ausente da coluna nas próximas três
semanas.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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