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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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BORIS FAUSTO

Caminhos do PSDB

Reina um certo desconcerto na direção do PSDB. A escolha de um novo Diretório Nacional foi adiada e, sobretudo, não parece haver muita clareza quanto aos rumos a seguir, a partir dos primeiros meses do governo Lula. Sem pretender dar receitas, o que seria inadequado para quem acompanha a vida política, mas dela não participa diretamente, penso que um caminho frutífero para o partido pode ser traçado olhando a atuação passada e presente do PT.
Em primeiro lugar, convém lembrar que, quaisquer que sejam os excessos de ênfase da direção petista na defesa do princípio de obediência às decisões partidárias, há algo aí a ser meditado e aproveitado. O PSDB tem um déficit de estrutura organizatória que o leva a correr o risco de perder a fisionomia e a considerar normais comportamentos partidários injustificáveis. O exemplo mais eloquente -nos últimos tempos diga-se de passagem- é o do senador Tasso Jereissati. Não obstante o apoio dado a Ciro Gomes, opondo-se ao candidato do partido às eleições presidenciais, jamais foi sequer advertido por esse procedimento, tudo se passando como se nada tivesse acontecido.
Por outro lado, o PT revela características que representam o reverso do papel que cabe a uma oposição responsável. A crua explicação dada para o comportamento negativista com relação ao governo Fernando Henrique e à atual mudança de rumos, pelo presidente Lula e o deputado João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, é um bom exemplo do que uma oposição digna desse nome não deve fazer: lançar bravatas, ou justificar o vale-tudo, na luta pelo poder.
Mas, ao mesmo tempo, quando o novo governo avança positivamente no terreno macroeconômico, com resultados palpáveis, e Lula revela uma inegável capacidade de articulação, penso que cabe ao PSDB apoiar esse curso e as reformas propostas, deixando de lado as justas recriminações quanto ao passado. Tanto mais quando se sabe que o rumo empreendido sofre as críticas não apenas da banda de música radical, mas de vozes com maior peso na sociedade e nos partidos que compõem a aliança no poder, aí incluindo o próprio PT.
O apoio ao rumo traçado até aqui não significa acompanhar simplesmente o carro dos atuais governantes. Significa, sim, sustentar o que deve ser sustentado em nome do interesse nacional, da coerência de princípios, das expectativas do eleitorado, sem prescindir da tarefa de mostrar que o caminho hoje seguido pelo governo não decorre de uma suposta "herança maldita", mas, pelo contrário, assenta-se nas significativas mudanças institucionais realizadas nos dois mandatos anteriores.
Além disso, ao lado das virtudes, um extenso campo abre-se às críticas da oposição. É só olhar para o foguetório apressado do Fome Zero, os impasses da educação, o populismo na Ciência e Tecnologia, a politização de cargos técnicos e outras coisas mais.
 
P.S.: Em viagem ao exterior, estarei ausente da coluna nas próximas três semanas.


Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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