São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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SEM ALARMISMO

As evidências de que a economia norte-americana se recupera têm ocasionado crescente movimentação nos mercados financeiros. Desde janeiro, aumentaram as expectativas de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, fosse determinar uma elevação da taxa de juros de curto prazo ainda neste primeiro semestre. Naquele mês, o comunicado emitido pelo comitê de política monetária do Fed não mais trouxe a expressão "tempo indefinido" ao se referir à manutenção da taxa de juros, fixada em 1%.
Desde então, a economia global, notadamente a de países emergentes, como o Brasil, passou a conviver com especulações em torno dos efeitos das decisões de Alan Greenspan.
Os baixos juros nos EUA contribuíram para gerar alta liqüidez internacional e aumentar os fluxos de capitais em busca de ativos de maior rendimento -e de maior risco-, como são os papéis brasileiros. A esperada troca de sinal na política do Fed reverte esse processo. Em abril, os emergentes registraram fuga recorde de investimentos. Anteontem, à véspera de nova reunião das autoridades monetárias norte-americanas, o nervosismo voltou aos mercados. O risco-país brasileiro subiu 5,7%.
Mais uma vez, porém, o Fed agiu com cautela, procurando dar tempo para que os investidores possam ir antecipando seus ajustes e mudando suas posições sem graves sobressaltos. Alguns analistas crêem que os mercados tendem a exagerar as conseqüências da mudança na política monetária norte-americana. De fato, não parece haver motivo para alarmismo. Os principais problemas da economia brasileira continuam sendo o alto endividamento e a baixa capacidade de crescimento.
Está claro, porém, que a fase, um tanto ilusória, de disponibilidade de capitais chega ao fim. E deve-se reconhecer que não foram aproveitadas a contento todas as oportunidades que se ofereceram no passado recente para reduzir a vulnerabilidade externa e estimular a atividade econômica brasileira. O governo até aqui cortou os juros menos do que o possível e acumulou reservas internacionais aquém do desejável.


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