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FERNANDO GABEIRA
O colapso das colônias
AS ABELHAS estão desaparecendo de forma misteriosa
nos EUA e na Europa. O fenômeno chegou ao Brasil, a julgar
pela denúncia de apicultores do sul
de Minas.
O nome científico dessa desaparição já tem uma sigla em inglês:
ccd, colony colapse disorder. Os
cientistas começam a buscar o
mundo político para transmitir sua
preocupação. Dizem que Hilary
Clinton foi sensibilizada pelo tema
e vai abordá-lo, como senadora ou
candidata.
Na visão de Einstein, se as abelhas desaparecerem, o mundo dos
homens vai acabar em pouco tempo. Pode ter exagerado na sua afirmação. Ou mesmo se equivocado,
ele que, no final da vida, foi vencido
pela física quântica.
Mas, se houve exagero em sua
afirmação, a raiz pode ser a mesma
de suas batalhas com as visões mecânicas da desordem. Einstein
achava o mundo complexo e delicado, uma engenhosa obra divina.
Tudo tinha sua razão de ser, e a tarefa humana era a de desvendar,
através da pesquisa e do estudo
científico, os desígnios do Criador.
Uma de suas mais famosas frases
ecoa até hoje: Deus não joga dados.
O exame dos ecossistemas mostra que Einstein tem razão quando
vê uma construção delicada e engenhosa, com todos os elementos em
inter-relação. Criados ou não pela
mão divina, os ecossistemas, na sua
interdependência, são o que há de
mais próximo da visão que o cientista tinha do universo.
Em artigo publicado em 2005, a
pesquisadora brasileira Fábia de
Mello Pereira destacava o perigo
do ataque humano às abelhas sem
ferrão das tribos meloponini e trigonini.
Segundo ela, essas espécies, dependendo do bioma, são responsáveis pela polinização de até 90%
das plantas nativas do Brasil.
Naquele momento, o problema
era a retirada das abelhas de seu
habitat, na base da derrubada de
árvores e transporte inadequado.
Ou mesmo a tentativa de implantar as abelhas sem ferrão em lugares inadequados para seu desenvolvimento.
Temos até uma disciplina oficial
para retirar e criar abelhas, com
uma resolução do Conama. Mas o
fenômeno que está surgindo no exterior e alcança o Brasil é de uma
nova qualidade.
Enquanto sabíamos o que destruía as colônias, era possível resistir. Agora não há ainda explicações.
Dos agrotóxicos às ondas dos telefones celulares, tudo é pesquisado.
Será preciso também, além da
ciência e das leis, um grande trabalho educativo para preservar as
abelhas. Provisoriamente, poderíamos começar por onde Einstein
terminou, acreditando que, no caso delas, Deus não joga dados.
assessoria@gabeira.com.br
FERNANDO GABEIRA escreve aos sábados nesta
coluna.
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