São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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FERNANDO GABEIRA

O colapso das colônias

AS ABELHAS estão desaparecendo de forma misteriosa nos EUA e na Europa. O fenômeno chegou ao Brasil, a julgar pela denúncia de apicultores do sul de Minas.
O nome científico dessa desaparição já tem uma sigla em inglês: ccd, colony colapse disorder. Os cientistas começam a buscar o mundo político para transmitir sua preocupação. Dizem que Hilary Clinton foi sensibilizada pelo tema e vai abordá-lo, como senadora ou candidata.
Na visão de Einstein, se as abelhas desaparecerem, o mundo dos homens vai acabar em pouco tempo. Pode ter exagerado na sua afirmação. Ou mesmo se equivocado, ele que, no final da vida, foi vencido pela física quântica.
Mas, se houve exagero em sua afirmação, a raiz pode ser a mesma de suas batalhas com as visões mecânicas da desordem. Einstein achava o mundo complexo e delicado, uma engenhosa obra divina. Tudo tinha sua razão de ser, e a tarefa humana era a de desvendar, através da pesquisa e do estudo científico, os desígnios do Criador.
Uma de suas mais famosas frases ecoa até hoje: Deus não joga dados.
O exame dos ecossistemas mostra que Einstein tem razão quando vê uma construção delicada e engenhosa, com todos os elementos em inter-relação. Criados ou não pela mão divina, os ecossistemas, na sua interdependência, são o que há de mais próximo da visão que o cientista tinha do universo.
Em artigo publicado em 2005, a pesquisadora brasileira Fábia de Mello Pereira destacava o perigo do ataque humano às abelhas sem ferrão das tribos meloponini e trigonini. Segundo ela, essas espécies, dependendo do bioma, são responsáveis pela polinização de até 90% das plantas nativas do Brasil.
Naquele momento, o problema era a retirada das abelhas de seu habitat, na base da derrubada de árvores e transporte inadequado.
Ou mesmo a tentativa de implantar as abelhas sem ferrão em lugares inadequados para seu desenvolvimento. Temos até uma disciplina oficial para retirar e criar abelhas, com uma resolução do Conama. Mas o fenômeno que está surgindo no exterior e alcança o Brasil é de uma nova qualidade.
Enquanto sabíamos o que destruía as colônias, era possível resistir. Agora não há ainda explicações. Dos agrotóxicos às ondas dos telefones celulares, tudo é pesquisado. Será preciso também, além da ciência e das leis, um grande trabalho educativo para preservar as abelhas. Provisoriamente, poderíamos começar por onde Einstein terminou, acreditando que, no caso delas, Deus não joga dados.


assessoria@gabeira.com.br

FERNANDO GABEIRA
escreve aos sábados nesta coluna.


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