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RUY CASTRO
Unplugged
RIO DE JANEIRO - Você entra
em qualquer restaurante a quilo e,
para não perder tempo comendo,
encontra tomadas por toda parte
para, se quiser, ligar o notebook e
continuar trabalhando. Não será
por falta delas que você deixará de
participar de uma conferência na
hora do almoço com 20 outros executivos, cada qual numa cidade ou,
cuíca, país.
Mas, supondo que considere a
hora do almoço sagrada e se recuse
a trabalhar e mastigar ao mesmo
tempo, há sempre o recurso de ligar
o iPod e se isolar. Assim, alheio ao
mundo exterior, você poderá engolir uma suave salada de faufilhas
com breufas e relaxar ouvindo as
948 melhores faixas do Metallica
estocadas no aparelhinho plugado
à sua orelha.
Bem, não é preciso ser tão radical
e cortar as pontes com o mundo.
Afinal, existe o celular. Com ele você pode gerar, reproduzir, manipular, receber, transportar, corrigir,
salvar, desenvolver, deletar, definir,
ampliar, imprimir, personalizar e
enviar uma quantidade ilimitada
de informações ou imagens inúteis.
Pode também fotografar sem querer o próprio tímpano. E pode ainda telefonar para o escritório e se
inteirar das últimas que aconteceram desde que você saiu de lá há
cinco minutos.
Some a isso os aparelhos de TV ligados neste e em outros restaurantes, botequins, hospitais, academias, bancos, shoppings, elevadores, vans, táxis, aeroportos e aviões.
É um bombardeio de informação,
pior do que qualquer blitzkrieg da
Segunda Guerra. Nesta, ao menos,
podia-se correr para os abrigos.
Há uma nova meta pela qual lutar. Todo ser humano deveria ter
direito a xis minutos diários de exclusividade dos próprios sentidos,
sem precisar plugá-los a nenhuma
geringonça do demônio ou deixá-los ser invadidos e envenenados
por imagens e sons que ninguém
pediu para existir.
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