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Renovar a agenda
Para continuar crescendo, país vai precisar enfrentar problemas como excesso de tributos, pouca poupança e deficit externo crescente
Os avanços na economia brasileira nos últimos anos são claros.
A aceleração do crescimento permitiu a incorporação de milhões
de pessoas à classe média, a pobreza e a concentração de renda
caíram de maneira sensível e o
país parece ter reencontrado sua
vocação empreendedora.
Tudo isso é fruto de um encadeamento de boas políticas praticadas nas duas últimas décadas.
Embora os méritos do governo Lula sejam evidentes, não basta, para o futuro, repetir o que se faz
agora. Os desafios se acumulam e
as fontes do dinamismo atual podem secar com o tempo.
Um exemplo é a presente elevação do consumo e das importações em ritmo veloz num cenário
de real valorizado -tendência
que poderá esbarrar em restrições
como deficit externo em alta e aumentos menores dos preços das
commodities exportadas.
Também será difícil preservar o
mesmo vigor da recente expansão
do crédito. O volume de empréstimos para empresas e pessoas físicas chega 45% do PIB, e já se aproxima do padrão global (excluindo-se os financiamentos imobiliários). Por fim, as deficiências do
Estado brasileiro continuam a
criar obstáculos para um crescimento mais rápido e equilibrado.
A continuidade do desenvolvimento do país depende de uma
nova agenda para a economia.
Duas frentes ao menos precisam
ser contempladas.
A primeira reúne as políticas ditas horizontais, que visam a proporcionar condições gerais favoráveis ao crescimento. Os empecilhos aqui são conhecidos: tributação em excesso para o setor produtivo aliada à ineficiência administrativa, ao baixo investimento
público e à pouca qualidade dos
serviços prestados pelo Estado.
Nos últimos anos houve retrocesso em várias áreas do governo,
agravados pelo aparelhamento da
máquina estatal e por falhas na
qualificação do funcionalismo. O
contínuo aumento dos gastos públicos, que se aproximam de 40%
do PIB, sem hierarquia estratégica
e com execução viciada por corrupção e compadrio, provoca efeitos danosos à economia.
É preciso reverter esta tendência, fazer o Estado caber no PIB e
torná-lo mais eficaz, em educação
e saúde, áreas essenciais, e também na expansão da infraestrutura. Escolhas políticas difíceis serão inevitáveis. O país precisará
aumentar o investimento na infância e adolescência e equacionar suas despesas previdenciárias, que já superam 13% do PIB,
nível acima do razoável.
A outra frente é a da criação de
um arcabouço que permita ao Brasil realizar transformações em sua
estrutura produtiva para avançar
na geração de bens com mais valor agregado. Não será sempre
sustentável o modelo baseado em
alto consumo, baixa poupança e
investimentos apoiados em deficit
externo. É preciso implementar
políticas para conter a tendência
de a indústria perder terreno num
quadro de especialização em produtos primários e serviços.
Há que se iniciar um esforço de
longo prazo para fazer da poupança interna a fonte primordial do
investimento. Dessa forma pode-se reduzir riscos cambiais e fomentar uma produção industrial
mais sofisticada -sem abandonar
a cadeia agroindustrial, na qual o
país alcançou reconhecido grau
de excelência.
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