São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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Renovar a agenda

Para continuar crescendo, país vai precisar enfrentar problemas como excesso de tributos, pouca poupança e deficit externo crescente

Os avanços na economia brasileira nos últimos anos são claros. A aceleração do crescimento permitiu a incorporação de milhões de pessoas à classe média, a pobreza e a concentração de renda caíram de maneira sensível e o país parece ter reencontrado sua vocação empreendedora.
Tudo isso é fruto de um encadeamento de boas políticas praticadas nas duas últimas décadas. Embora os méritos do governo Lula sejam evidentes, não basta, para o futuro, repetir o que se faz agora. Os desafios se acumulam e as fontes do dinamismo atual podem secar com o tempo.
Um exemplo é a presente elevação do consumo e das importações em ritmo veloz num cenário de real valorizado -tendência que poderá esbarrar em restrições como deficit externo em alta e aumentos menores dos preços das commodities exportadas.
Também será difícil preservar o mesmo vigor da recente expansão do crédito. O volume de empréstimos para empresas e pessoas físicas chega 45% do PIB, e já se aproxima do padrão global (excluindo-se os financiamentos imobiliários). Por fim, as deficiências do Estado brasileiro continuam a criar obstáculos para um crescimento mais rápido e equilibrado.
A continuidade do desenvolvimento do país depende de uma nova agenda para a economia. Duas frentes ao menos precisam ser contempladas.
A primeira reúne as políticas ditas horizontais, que visam a proporcionar condições gerais favoráveis ao crescimento. Os empecilhos aqui são conhecidos: tributação em excesso para o setor produtivo aliada à ineficiência administrativa, ao baixo investimento público e à pouca qualidade dos serviços prestados pelo Estado.
Nos últimos anos houve retrocesso em várias áreas do governo, agravados pelo aparelhamento da máquina estatal e por falhas na qualificação do funcionalismo. O contínuo aumento dos gastos públicos, que se aproximam de 40% do PIB, sem hierarquia estratégica e com execução viciada por corrupção e compadrio, provoca efeitos danosos à economia.
É preciso reverter esta tendência, fazer o Estado caber no PIB e torná-lo mais eficaz, em educação e saúde, áreas essenciais, e também na expansão da infraestrutura. Escolhas políticas difíceis serão inevitáveis. O país precisará aumentar o investimento na infância e adolescência e equacionar suas despesas previdenciárias, que já superam 13% do PIB, nível acima do razoável.
A outra frente é a da criação de um arcabouço que permita ao Brasil realizar transformações em sua estrutura produtiva para avançar na geração de bens com mais valor agregado. Não será sempre sustentável o modelo baseado em alto consumo, baixa poupança e investimentos apoiados em deficit externo. É preciso implementar políticas para conter a tendência de a indústria perder terreno num quadro de especialização em produtos primários e serviços.
Há que se iniciar um esforço de longo prazo para fazer da poupança interna a fonte primordial do investimento. Dessa forma pode-se reduzir riscos cambiais e fomentar uma produção industrial mais sofisticada -sem abandonar a cadeia agroindustrial, na qual o país alcançou reconhecido grau de excelência.


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