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FERNANDO RODRIGUES
Guerra Fria
BRASÍLIA - Bastidores de campanhas políticas mimetizam em seu
microcosmo o ambiente da Guerra
Fria. A equipe de cada candidato
acumula em silêncio munição contra os adversários. Usa-se quando
necessário. Em geral, nunca. É um
jogo de ameaças surdas.
Quando passa o conflito, o arsenal bélico todo fica quase inutilizado. Quase.
Em eleições passadas aqui no
Brasil, várias bombas foram acumuladas por tucanos e petistas. Assim como depois da Guerra Fria, algumas ogivas nucleares acabaram
em mãos erradas. O mesmo ocorre
em disputas políticas.
Quem empilhou dados explosivos em eleições anteriores às vezes
não está mais no mesmo partido. O
assessor ou detetive particular de
dois anos atrás, hoje pode, quem
sabe, ter trocado de lado.
As campanhas presidenciais de
José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT) passam exatamente por
uma situação dessa ordem. Há vasto material acumulado de parte a
parte. Não está claro quando e se algo será detonado. O episódio recente do tal suposto dossiê antitucano
demonstrou o alto grau de imprevisibilidade do cenário.
Dividido em facções desde sua
criação, o PT protagonizou uma
guerra interna de versões sobre
quem teria -ou não- interesse em
disparar um petardo na direção da
campanha adversária.
Mal comparando, o surgimento
desse papelório se deu por um descontrole semelhante ao visto na
Tchetchênia depois do esfacelamento da União Soviética. Como
tratou-se de um dossiê que foi sem
nunca ter sido -como a viúva Porcina de Dias Gomes-, o assunto
produziu muita luz, pouco efeito
externo e serviu à guerra interna de
"aparatischks" petistas.
Resta saber se Dilma e Serra conseguirão manter sob controle as
suas Tchetchênias.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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