São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

Guerra Fria

BRASÍLIA - Bastidores de campanhas políticas mimetizam em seu microcosmo o ambiente da Guerra Fria. A equipe de cada candidato acumula em silêncio munição contra os adversários. Usa-se quando necessário. Em geral, nunca. É um jogo de ameaças surdas.
Quando passa o conflito, o arsenal bélico todo fica quase inutilizado. Quase.
Em eleições passadas aqui no Brasil, várias bombas foram acumuladas por tucanos e petistas. Assim como depois da Guerra Fria, algumas ogivas nucleares acabaram em mãos erradas. O mesmo ocorre em disputas políticas.
Quem empilhou dados explosivos em eleições anteriores às vezes não está mais no mesmo partido. O assessor ou detetive particular de dois anos atrás, hoje pode, quem sabe, ter trocado de lado.
As campanhas presidenciais de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT) passam exatamente por uma situação dessa ordem. Há vasto material acumulado de parte a parte. Não está claro quando e se algo será detonado. O episódio recente do tal suposto dossiê antitucano demonstrou o alto grau de imprevisibilidade do cenário.
Dividido em facções desde sua criação, o PT protagonizou uma guerra interna de versões sobre quem teria -ou não- interesse em disparar um petardo na direção da campanha adversária.
Mal comparando, o surgimento desse papelório se deu por um descontrole semelhante ao visto na Tchetchênia depois do esfacelamento da União Soviética. Como tratou-se de um dossiê que foi sem nunca ter sido -como a viúva Porcina de Dias Gomes-, o assunto produziu muita luz, pouco efeito externo e serviu à guerra interna de "aparatischks" petistas.
Resta saber se Dilma e Serra conseguirão manter sob controle as suas Tchetchênias.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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