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CESAR MAIA
Razões do voto e medo
As pesquisas eleitorais são
reiterativas sobre intenção de
voto e deveriam servir para
que as equipes de campanha
avaliassem as razões -positivas e negativas- que levam os
eleitores a decidir votar. Não é
um processo simples. Essas
perguntas não são óbvias.
A pesquisa qualitativa -de
muito difícil avaliação- é
quase sempre tratada com a
mesma ótica da pesquisa
quantitativa. Os institutos que
as fazem querem tirar conclusões sobre probabilidade de
voto e destacar uma ou outra
expressão a ser usada pela
campanha ou respondida.
Uma utilidade seria preparar
perguntas para as pesquisas
quantitativas e, com esta combinação, tirar conclusões.
Mas há outra questão ainda
mais complexa. Se o eleitor
atribui a um candidato qualidades maiores que as do outro, deve-se perguntar se é esta
uma razão de voto.
O Datafolha listou atributos
e pediu que o eleitor indicasse
o candidato que mais se aproxima deles. Destacou o candidato da oposição como o mais
experiente, inteligente, realizador, preparado para ser presidente, próximo aos ricos...
Já na candidata do governo,
destacou ajudar os pobres e as
mulheres, embora entre as
mulheres ela perca na intenção de voto. E 18% dizem que a
candidata verde defenderá os
pobres, embora tenha quase a
metade disso em intenção de
voto. O eleitor tende a fazer o
voto útil e, mesmo que priorize
esse atributo, tende a não
transformar isso em voto se
ela não tiver chance.
Esses pontos são importantes, mas não necessariamente
decidem o voto. As equipes de
campanha devem analisar
qual é a agenda vencedora no
imaginário do eleitor.
Um caso clássico é o da primeira eleição de Clinton a presidente. Numa lista de 40
questões, Clinton só vencia
em uma: a economia. Sua
equipe de campanha a testou
como razão de voto e surpreendeu-se com a correlação.
A partir daí, nas reuniões com
os multiplicadores de campanha, Carville (coordenador de
comunicação) gritava: "É a
economia, estúpido!". E foi.
A razão de voto pode ser positiva ou negativa. As ruas funcionam como uma pesquisa
qualitativa. Uma mesma expressão usada em três pontos
completamente diferentes de
uma cidade quase sempre significa que dezenas de milhares de pessoas pensam da
mesma maneira. Em seguida,
deve-se avaliar se é razão de
voto e então incluir em uma
pesquisa quantitativa.
É esse estudo (que já deveria ter sido feito pelas campanhas) de investigação das
duas ou três razões de voto
que construirá a agenda a ser
priorizada na comunicação
via mídia e, principalmente,
na comunicação direta, nas
ruas e reuniões, de forma a
acelerar os fluxos de "opinamento" -a favor de si e contra
o adversário.
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
cesar.maia@uol.com.br
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