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Em marcha lenta
Economia global emite sinais de que recuperação pode ser mais lenta; os tropeços na Europa, nos EUA e na China atrapalham uma retomada
Depois de um início de ano mais
positivo, com boas expectativas
sobre a recuperação da economia
mundial, nos últimos meses acumularam-se riscos importantes.
De certa forma, assemelham-se
ao que se viu no mesmo período
do ano passado: fraqueza na economia dos EUA, crise na Europa e
aperto monetário na China.
Os dados mais recentes indicam
uma recaída do crescimento norte-americano, de apenas 1,8% no
primeiro trimestre. Até o momento, não há sinais de aceleração para o patamar de 3% esperado neste ano. A criação de empregos
também perde vigor, com adição
de apenas 54 mil vagas em maio,
contra a média superior a 200 mil
nos três meses anteriores.
É certo que parte dessa fraqueza
decorre de fatores pontuais, como
a subtração de renda ocasionada
pela alta dos preços do petróleo,
repassada imediatamente ao consumidor nos EUA. A interrupção
das cadeias de produção industrial que se seguiu ao tsunami no
Japão, por sua vez, contribuiu para a queda de quase 10% na produção de automóveis em maio.
Outra fonte de incerteza é a crise na periferia da Europa, que sofre uma recidiva. A recessão grega
se mostrou muito mais profunda
que o esperado, e o país não conseguiu cumprir as metas fiscais
acordadas com a União Europeia
(UE) e o FMI. Com isso, ficou evidente que seria impossível ao país
voltar ao mercado em 2012 para
obter financiamento, como era o
plano original. Tornou-se inevitável um novo socorro oficial, que
pode chegar a mais de 30 bilhões
de euros, ora em negociação.
O fato é que a crise europeia é
crônica. Episódios de recaída serão frequentes, no ambiente recessivo da periferia. A Grécia muito dificilmente escapará de uma
reestruturação da dívida.
Por fim, há uma grande incerteza sobre a economia chinesa, que
ainda passa por pressões inflacionárias. Nesse meio-tempo, o governo chinês continua com sua
política de aperto monetário, que
já reduziu o crescimento de 10,5%
ao ano no último trimestre de 2010
para 9% no primeiro deste ano. O
temor é que haja uma desaceleração maior, para 7% ou menos, que
seria danosa a outros emergentes.
No fim das contas, muito da desaceleração recente pode se mostrar temporária, pois o próprio temor de nova recessão derrubou os
preços de matérias-primas e reduziu pressões inflacionárias.
A mensagem que fica, no entanto, é a de um mundo com duas velocidades de crescimento -muito
fraca nos países ricos e muito forte
nos emergentes. Como sobra capital nos primeiros (excesso de liquidez), especialmente nos EUA,
os emergentes provavelmente
continuarão a padecer de riscos
inflacionários recorrentes.
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