São Paulo, domingo, 05 de junho de 2011

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Em marcha lenta

Economia global emite sinais de que recuperação pode ser mais lenta; os tropeços na Europa, nos EUA e na China atrapalham uma retomada

Depois de um início de ano mais positivo, com boas expectativas sobre a recuperação da economia mundial, nos últimos meses acumularam-se riscos importantes.
De certa forma, assemelham-se ao que se viu no mesmo período do ano passado: fraqueza na economia dos EUA, crise na Europa e aperto monetário na China.
Os dados mais recentes indicam uma recaída do crescimento norte-americano, de apenas 1,8% no primeiro trimestre. Até o momento, não há sinais de aceleração para o patamar de 3% esperado neste ano. A criação de empregos também perde vigor, com adição de apenas 54 mil vagas em maio, contra a média superior a 200 mil nos três meses anteriores.
É certo que parte dessa fraqueza decorre de fatores pontuais, como a subtração de renda ocasionada pela alta dos preços do petróleo, repassada imediatamente ao consumidor nos EUA. A interrupção das cadeias de produção industrial que se seguiu ao tsunami no Japão, por sua vez, contribuiu para a queda de quase 10% na produção de automóveis em maio.
Outra fonte de incerteza é a crise na periferia da Europa, que sofre uma recidiva. A recessão grega se mostrou muito mais profunda que o esperado, e o país não conseguiu cumprir as metas fiscais acordadas com a União Europeia (UE) e o FMI. Com isso, ficou evidente que seria impossível ao país voltar ao mercado em 2012 para obter financiamento, como era o plano original. Tornou-se inevitável um novo socorro oficial, que pode chegar a mais de 30 bilhões de euros, ora em negociação.
O fato é que a crise europeia é crônica. Episódios de recaída serão frequentes, no ambiente recessivo da periferia. A Grécia muito dificilmente escapará de uma reestruturação da dívida.
Por fim, há uma grande incerteza sobre a economia chinesa, que ainda passa por pressões inflacionárias. Nesse meio-tempo, o governo chinês continua com sua política de aperto monetário, que já reduziu o crescimento de 10,5% ao ano no último trimestre de 2010 para 9% no primeiro deste ano. O temor é que haja uma desaceleração maior, para 7% ou menos, que seria danosa a outros emergentes.
No fim das contas, muito da desaceleração recente pode se mostrar temporária, pois o próprio temor de nova recessão derrubou os preços de matérias-primas e reduziu pressões inflacionárias.
A mensagem que fica, no entanto, é a de um mundo com duas velocidades de crescimento -muito fraca nos países ricos e muito forte nos emergentes. Como sobra capital nos primeiros (excesso de liquidez), especialmente nos EUA, os emergentes provavelmente continuarão a padecer de riscos inflacionários recorrentes.


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