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RETROCESSO
É hora de o presidente da República manifestar-se sobre a desastrosa condução da política de comunicações do ministro Pimenta da
Veiga. A simples omissão de Fernando Henrique Cardoso representará o
seu aval ao retrocesso no setor.
Não se trata de uma mera disputa
sobre o espólio administrativo do
responsável pela implantação da política de telecomunicações no primeiro mandato de FHC, o ministro
Sérgio Motta, morto em 1998. O que
está em jogo é se o controle de uma
atividade-chave para o futuro das relações de poder no país -e, portanto, da democracia- ficará concentrado no Executivo ou se será exercido por uma instância pública independente do governante de turno.
A opção política tomada nos primeiros anos de governo FHC foi clara. Apontava para a superação do
modelo em que concessões de rádio
e TV eram usadas como barganha
pelo Executivo para viabilizar seus
interesses. Propunha que a regulação do setor fosse progressivamente
entregue a agências públicas, cujos
diretores detêm mandato fixo e não
coincidente com o do presidente da
República, que têm de prestar contas
sobre suas ações periodicamente ao
Congresso Nacional e cujo processo
decisório deve ser permeável à participação da sociedade civil.
A assunção de Pimenta da Veiga
marca uma reviravolta nessa trajetória. Sob sua gestão, o ministério obteve o controle de verba anual de R$ 1
bilhão do Fundo de Universalização
dos Serviços de Telecomunicações,
fundamental para a regulação. Agora
propõe uma lei que, entre outros graves problemas, mantém no Executivo o controle das concessões de rádio e televisão, bem como de novos
serviços de telecomunicações; não
regula TVs a cabo; acaba com limites
de propriedade de emissoras por
acionista; e não limita a propriedade
cruzada (detenção, por exemplo, de
licenças de TV a cabo, telefonia e TV
aberta na mesma região).
À véspera de uma eleição nacional e
diante de renovada onda de pressão
pela retirada de obstáculos a oligopólios nas comunicações, o momento é propício para que coincidam certos interesses politiqueiros e empresariais. Cabe a FHC, que vive a falar
de "modernização" e "avanço", a decisão sobre impedir ou não mais um
retrocesso em seu governo.
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