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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

De diplomacia e seres humanos

SÃO PAULO - Diplomacia é apenas punhos de renda e/ou áridas negociações políticas e comerciais, certo?
Não necessariamente, como demonstra insólita iniciativa dos governos do Brasil e do Chile destinada a tentar assegurar que uma mãe possa ver os filhos dos quais está separada há seis anos.
Antes de voltar à diplomacia, resumo do caso: a argentina Gabriela Arias Uriburu casou-se com o jordaniano Imad Mahmoud Shaban, com o qual teve três filhos (Karim, Zahira e Sharif).
O casal vivia na Guatemala, em 1997, quando se desentendeu. O pai decidiu levar as crianças para a Jordânia, em atitude que a mãe qualifica de "sequestro".
Todas as gestões para que Gabriela pudesse rever os filhos, mesmo por pouco tempo, foram inúteis. Ela resolveu criar uma fundação ("Niños para el Mundo") destinada a dar suporte ao número crescente de vítimas de casos do gênero.
Entre as propostas da fundação, estão a celebração de acordos bilaterais e multilaterais que disciplinem essas situações e a criação de um "Tribunal Internacional de Família".
Foi tal o empenho da mãe que os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Ricardo Lagos resolveram intermediar: ofereceram-se como garantes da volta das crianças à Jordânia se o pai deixar que elas visitem brevemente a mãe na Argentina.
O empenho do novo governo argentino, do presidente Néstor Kirchner, também passou a ser tamanho que ele pretende discutir a questão na Cúpula de Londres, a reunião da chamada "Governança Progressista" (ex-"Terceira Via", marcada para os dias 13 e 14 em Londres).
A idéia é interessar o primeiro-ministro Tony Blair, teoricamente uma voz mais forte no mundo.
É tão raro problemas cotidianos de mortais comuns abrirem espaço na agenda dos poderosos que vale a pena o registro.
Talvez nem tudo esteja perdido.


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