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CLÓVIS ROSSI
De diplomacia e seres humanos
SÃO PAULO - Diplomacia é apenas punhos de renda e/ou áridas negociações políticas e comerciais, certo?
Não necessariamente, como demonstra insólita iniciativa dos governos do Brasil e do Chile destinada a
tentar assegurar que uma mãe possa
ver os filhos dos quais está separada
há seis anos.
Antes de voltar à diplomacia, resumo do caso: a argentina Gabriela
Arias Uriburu casou-se com o jordaniano Imad Mahmoud Shaban, com
o qual teve três filhos (Karim, Zahira
e Sharif).
O casal vivia na Guatemala, em
1997, quando se desentendeu. O pai
decidiu levar as crianças para a Jordânia, em atitude que a mãe qualifica de "sequestro".
Todas as gestões para que Gabriela
pudesse rever os filhos, mesmo por
pouco tempo, foram inúteis. Ela resolveu criar uma fundação ("Niños
para el Mundo") destinada a dar suporte ao número crescente de vítimas
de casos do gênero.
Entre as propostas da fundação, estão a celebração de acordos bilaterais
e multilaterais que disciplinem essas
situações e a criação de um "Tribunal Internacional de Família".
Foi tal o empenho da mãe que os
governos Luiz Inácio Lula da Silva e
Ricardo Lagos resolveram intermediar: ofereceram-se como garantes da
volta das crianças à Jordânia se o pai
deixar que elas visitem brevemente a
mãe na Argentina.
O empenho do novo governo argentino, do presidente Néstor Kirchner,
também passou a ser tamanho que
ele pretende discutir a questão na
Cúpula de Londres, a reunião da
chamada "Governança Progressista"
(ex-"Terceira Via", marcada para os
dias 13 e 14 em Londres).
A idéia é interessar o primeiro-ministro Tony Blair, teoricamente uma
voz mais forte no mundo.
É tão raro problemas cotidianos de
mortais comuns abrirem espaço na
agenda dos poderosos que vale a pena o registro.
Talvez nem tudo esteja perdido.
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