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ANTONIO DELFIM NETTO
O paradoxo nacional
OS PAÍSES emergentes que
dependiam da importação
de petróleo nos anos 70/80
entraram em crise profunda. Acumularam déficits em conta corrente que não eram mais financiáveis
depois da tremenda elevação da taxa de juro nos EUA (16,4% em
1981) para combater a inflação de
13% em média nos anos 1979/80. A
situação brasileira era das mais difíceis: importávamos 80% do petróleo consumido. Políticos que,
agora, sem nenhum humildade, se
dizem criadores de todas as coisas,
enganaram a sociedade brasileira
afirmando que a crise mundial de
1981/82, quando o PIB real dos
EUA caiu 2% e o nível de desemprego chegou a 10%, "era obra da
política econômica brasileira"...
Estatísticas posteriores confirmaram o que a mentira escondia. A
economia brasileira foi a primeira
do mundo emergente a voltar à tona: depois da desvalorização da
moeda nacional e de grave recessão, o país eliminou o seu déficit
em conta corrente em 1984. Restou, entretanto, a enorme dívida
construída para manter o país funcionando com o petróleo importado, multiplicada pela incidência
das maiores taxas de juros reais internacionais da história econômica
mundial. A negociação dessa dívida
foi, desde 1985, "empurrada com a
barriga", até que o ilustre ministro
Pedro Malan a completasse com
sucesso em 1994.
Com enormes dificuldades políticas internas, com a construção de
uma nova Constituição e sem a menor compreensão externa, o Brasil
foi resolvendo penosamente os
seus problemas. Voltou a crescer
5,5% em 1993/94, com equilíbrio
em conta corrente. Restava um
problema que parecia insolúvel: a
taxa de inflação (900% ao ano no
mesmo período). Ele foi enfrentado com um brilhante programa de
estabilização, o Plano Real, colocado em prática ainda no governo
Itamar Franco. Ele produziu FHC,
e este, em duas eleições, transformou o PSDB de uma vaga idéia de
uma "social democracia domesticada" num partido forte. Da mesma forma, foi a política econômica
de FHC que produziu Lula. O carisma deste, por sua vez, deu ao PT a
oportunidade de levar a "utopia
domesticada" até onde chegou.
FHC e Lula têm em comum o fato
de que não foram produtos de seus
partidos. Foram eles que os transformaram em vetores de poder.
A dificuldade que vivemos é que,
ao resolver o drama da inflação,
tornamos problemático o crescimento: a carga tributária bruta,
que era de 25%, passou a 37% do
PIB, e a relação dívida líquida do
setor público/PIB, que era de 30%,
hoje é de 51%. Paradoxalmente, o
ineficiente Estado brasileiro é o
único que depois de privatizar ficou maior!
dep.delfimnetto@camara.gov.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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