São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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LUIZ FERNANDO VIANNA

Lula não enfrenta Zidane

RIO DE JANEIRO - No início da noite de sábado, era apenas de três a mesa num bar do Leblon. Um amigo querido, com uma ira latina maravilhosamente anedótica, pedia para Roberto Carlos a mesma sentença de morte que caiu sobre o colombiano Escobar após um gol contra na Copa de 94 e, cego de tristeza, ainda perguntava: "Mas o que o Zidane fez de objetivo?".
Depois, mais amigos chegaram e o chororô deu lugar a uma comovente saraivada de piadas, lembrando-nos de que somos o avesso da cara euroamuada de Parreira: gostamos de vestir o estereótipo do carioca e assumir a cordialidade brasileira teorizada por Buarque 1º.
Mas, de vez em quando, alguma voz de corvo do Edgar avisava que, terminada para nós a Copa, o próximo compromisso cívico ganharia logo as ruas e mesas: eleições.
Como nosso presidente gosta tanto de metáforas futebolísticas, não é de todo absurdo (nem original) inverter a literatice de seus discursos e comparar o time (?) de Parreira com o governo de Lula.
Ambos tinham a função de dar espetáculo, mas preferiram jogar feio. Ambos falaram muito, mas a realidade desmoralizou as promessas. Ambos abusaram da arrogância e continuam abusando das frases de mau efeito -esse "ninguém queria ser campeão do mundo mais do que eu" (Parreira) não lembra aquele "está para nascer alguém que queira discutir ética comigo" (Lula)?
Homem de sorte, Lula não tem pela frente um Zidane. Alguém que una experiência e carisma, lençóis cinematográficos e eficientes passes rasteiros, brilho individual e espírito coletivo, muita elegância e pouca pose. Parece que, jogando contra Austrálias e Ganas, ele vai tocar sua bolinha até 2010.
Já a seleção brasileira não terá, daqui a quatro anos, Cafu, Roberto Carlos nem Zidane contra. Será que a esperança vai vencer o medo?


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