São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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"Foi para o espaço"

Governo federal é o maior responsável pelo descontrole aéreo, mas empresas também têm participação na crise

NÃO HÁ dúvida de que o maior responsável pela situação calamitosa da aviação civil brasileira é o governo, que deixou de fazer os investimentos necessários mesmo dispondo de recursos para tanto. Isso não significa que as empresas aéreas não tenham sua parcela de responsabilidade na crise nem que a resolução das dificuldades não seja um problema delas. Gostem ou não, as companhias estão obrigadas a operar nos limites da infra-estrutura aeroviária do país.
É de estranhar, portanto, a relutância das empresas em acatar medidas óbvias de redução de vôos em determinados horários e rotas que permitiriam desafogar os pontos críticos e recompor a malha aérea nacional -a qual, a crer nas palavras do presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, "foi para o espaço".
A persistir a balbúrdia nos aeroportos, os maiores prejudicados depois dos passageiros serão as companhias aéreas. Os consumidores estão, com toda a razão, cada vez mais relutantes em comprar um bilhete. Muitos desistem de viajar ou optam por outros meios de transporte. Ou bem as empresas aceitam uma redução planejada de escalas de vôo, ou o mercado acabará providenciando uma -e de forma bem menos organizada.
É incrível que, nove meses após o início dos tumultos, as companhias ainda não tenham desenvolvido um sistema eficaz de comunicação com seus clientes. Parte dos transtornos poderia ser evitada se os passageiros fossem alertados do atraso antes de sair de casa. Mesmo quando não é possível fazê-lo, o consumidor tende a ficar mais tranqüilo quando é mantido a par das razões do atraso e das perspectivas de resolver o problema.
Persiste ainda a suspeita de que empresas estejam se aproveitando da situação caótica. Os motins de controladores e nevoeiros seriam uma cortina de fumaça para o abuso de práticas como "overbooking" e aglutinação de vôos com vistas a maximizar a ocupação das aeronaves.
No que tange ao "overbooking", é o caso de, seguindo o exemplo de outros países, criar medidas que ponham fim a esse abuso. Se uma pessoa física vende algo que não tem, pode ser presa e processada por estelionato. Empresas aéreas transformaram em norma a venda de assentos inexistentes. Quando prejudicam alguém, limitam-se a acomodá-lo num vôo futuro. É preciso aproveitar a consulta pública em curso para estabelecer o dever de as companhias pagarem indenização imediata, em espécie, aos prejudicados.
A confusão aérea é uma obra coletiva que tem como autor principal o governo e, como secundários, empresas aéreas, controladores de vôos e até intempéries. É preciso, porém, aproveitar a crise para tentar criar um sistema aéreo melhor.


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