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A última de Chávez
NEM TODAS as invectivas do
presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, podem ser
associadas ao seu pendor, inegável, pela provocação gratuita. O
ultimato ao Congresso brasileiro, embalado em impropérios típicos do caudilho de Caracas, se
insere em outra lógica.
Chávez parece buscar deliberadamente o impasse, como se
precisasse de um pretexto para
abandonar o Mercosul. Sabe que
as suas declarações, dando três
meses para que os Legislativos
brasileiro e paraguaio aprovem a
entrada da Venezuela, tornarão
ainda mais difícil, talvez inviável,
a ampliação do bloco regional.
Há algum tempo o presidente
venezuelano vem preparando o
terreno para esse recuo. Desde
que o protocolo para a adesão venezuelana foi aprovado, Chávez
não perde oportunidade de dizer
que desejaria modificar o Mercosul. Na última cúpula sul-americana, liderou uma investida de
bastidores contra os biocombustíveis, a menina dos olhos da diplomacia do governo Lula.
A Venezuela chavista envereda
por caminhos divergentes do
projeto do Mercosul. Este se fundou na queda das barreiras comerciais entre os membros e no
respeito ao investimento privado. Já a vertente do "socialismo
do século 21" adere à velha fórmula do nacionalismo populista
latino-americano, em que as liberdades empresariais -e as democráticas, de modo geral- estão sob constante ameaça.
As exportações brasileiras para
a Venezuela cresceram bastante
nos últimos anos, na esteira da
alta do petróleo. Acordos pontuais entre empresas dos dois
países também ocorreram. Nada
disso dependeu da assinatura de
um acordo amplo como o Mercosul -em que vigora, vale lembrar, uma cláusula democrática.
Uma diminuição adicional de
barreiras no comércio com a Venezuela beneficiaria sem dúvida
os exportadores brasileiros. Mas
o custo político da aproximação
com o regime chavista já está
oneroso demais. Se Chávez quer
retirar-se do bloco, a diplomacia
do Brasil não deve fazer nenhum
gesto para demovê-lo da idéia.
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