São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

De atores e canastrões

LISBOA - A 1ª Cúpula Brasil/ União Européia, ontem realizada em Lisboa, cimentou a "parceria estratégica" entre ambos, o que acaba sendo o reconhecimento mais cabal até agora de que o Brasil "tornou-se ator político global", como disse o primeiro-ministro português José Sócrates.
Antes, o Brasil já se tornara "ator global", mas apenas nas negociações comerciais em que passou a desempenhar um papel relevante e superior ao seu peso relativo no comércio mundial (de apenas 1%, pouco mais ou menos).
Agora, a conversa é outra, muito mais abrangente. Inclui, sim, o comércio e a tal Rodada Doha, que não sai do lugar mas suscita zilhões de reuniões entre os negociadores, que parecem empenhados em não fazer um acordo, por mais que digam o contrário. Mas, para ficar apenas no resumo feito por Sócrates, há muito mais no cardápio. Para começar, há "uma aposta no multilateralismo efetivo". Tradução: Brasil e União Européia dispõem-se a cooperar para evitar que os Estados Unidos continuem a cometer erros bárbaros com o seu unilateralismo.
Além disso, há um campo de cooperação óbvio na luta contra a mudança climática, em que o Brasil tem uma oferta -a dos biocombustíveis- que é olhada ao mesmo tempo com carinho e com receio. Houve um momento em que os biocombustíveis pareciam a resposta dos céus à necessidade de reduzir a emissão inevitável de gases no uso de combustíveis fósseis. Agora, dificilmente passa dia, na Europa, sem que alguma autoridade levante dúvidas sobre o custo/ benefício dos biocombustíveis.
A parceria com a Europa oferece o palco para desfazer as dúvidas, se elas forem de fato inconsistentes, o que dá uma bela discussão. É pena que o "ator político global" tenha, internamente, tantos canastrões fazendo política, para não dizer coisa pior.

crossi@uol.com.br


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