|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
De atores e canastrões
LISBOA - A 1ª Cúpula Brasil/
União Européia, ontem realizada
em Lisboa, cimentou a "parceria estratégica" entre ambos, o que acaba
sendo o reconhecimento mais cabal
até agora de que o Brasil "tornou-se
ator político global", como disse o
primeiro-ministro português José
Sócrates.
Antes, o Brasil já se tornara "ator
global", mas apenas nas negociações comerciais em que passou a
desempenhar um papel relevante e
superior ao seu peso relativo no comércio mundial (de apenas 1%,
pouco mais ou menos).
Agora, a conversa é outra, muito
mais abrangente. Inclui, sim, o comércio e a tal Rodada Doha, que
não sai do lugar mas suscita zilhões
de reuniões entre os negociadores,
que parecem empenhados em não
fazer um acordo, por mais que digam o contrário.
Mas, para ficar apenas no resumo
feito por Sócrates, há muito mais no
cardápio. Para começar, há "uma
aposta no multilateralismo efetivo". Tradução: Brasil e União Européia dispõem-se a cooperar para
evitar que os Estados Unidos continuem a cometer erros bárbaros
com o seu unilateralismo.
Além disso, há um campo de cooperação óbvio na luta contra a mudança climática, em que o Brasil
tem uma oferta -a dos biocombustíveis- que é olhada ao mesmo
tempo com carinho e com receio.
Houve um momento em que os
biocombustíveis pareciam a resposta dos céus à necessidade de reduzir a emissão inevitável de gases
no uso de combustíveis fósseis.
Agora, dificilmente passa dia, na
Europa, sem que alguma autoridade levante dúvidas sobre o custo/
benefício dos biocombustíveis.
A parceria com a Europa oferece
o palco para desfazer as dúvidas, se
elas forem de fato inconsistentes, o
que dá uma bela discussão.
É pena que o "ator político global" tenha, internamente, tantos
canastrões fazendo política, para
não dizer coisa pior.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: A última de Chávez Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Tudo que seu mestre mandar Índice
|