São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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PRESSÃO NOS PREÇOS

As cotações do petróleo voltaram a subir nos mercados internacionais depois de o presidente da Opep ter declarado que os países produtores filiados à entidade, responsável por mais de 40% da produção mundial, estariam próximos do limite de sua capacidade produtiva. Cotado a US$ 32,52 no início de janeiro, o preço do barril negociado em Nova York chegou, na terça-feira, a US$ 44,24. Nesse cenário, vai-se mostrando inevitável uma nova elevação dos preços dos combustíveis no Brasil. De acordo com a consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), o valor do óleo diesel estaria defasado em cerca de 15%, e o da gasolina, em 20%.
A Petrobras, que promoveu um reajuste em junho, reluta em corrigir os combustíveis, dizendo-se à espera da consolidação do novo patamar de preços. De fato não faz sentido, num momento de volatilidade, que a empresa acompanhe cada passo do vaivém das cotações. A relutância, no entanto, alimenta suspeitas de que a estatal esteja sendo influenciada por motivações políticas, uma vez que um novo reajuste prejudicaria os interesses petistas nas eleições que se avizinham. De fato, esperar que os preços se estabilizem pode ser uma conveniente maneira de aguardar, com um argumento técnico à mão, que as eleições se definam.
Do ponto de vista das repercussões econômicas internas, a alta do petróleo deve representar uma intensificação das pressões inflacionárias, num quadro em que se acentuam as dificuldades de o Banco Central cumprir a meta de inflação fixada para 2005 -de 4,5%, com margem de 2,5 pontos percentuais. Todos os sinais, até aqui, são de que o "choque de oferta" ocorrido no primeiro semestre, em razão dos aumentos do petróleo e de outras commodities, muito dificilmente será revertido ou compensado pela queda de outros preços.
É preciso encarar essa situação com realismo e tomar as decisões acertadas, que devem preservar -e não abortar, com novos aumentos da taxa de juros- a retomada do crescimento da economia.


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