São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Mudando paradigmas

GIOVANNI GUIDO CERRI


Com uma administração moderna e diferenciada, o Instituto do Câncer de São Paulo assume papel de vanguarda

HOSPITAL NÃO costuma ser um lugar onde as pessoas gostam de estar, sejam pacientes, sejam apenas visitantes. Por essa razão, é importante criar mecanismos para tornar o período de internação, consulta ou exames o mais agradável possível, incluindo medidas que contribuam para agilizar o atendimento.
Ainda há, entretanto, espaço para diferenciais, e essa é a proposta do Instituto do Câncer de São Paulo "Octavio Frias de Oliveira", inaugurado em maio deste ano para ser o maior hospital especializado em oncologia da América Latina, além de referência internacional em ensino e pesquisa.
Fruto de parceria entre a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e a Faculdade de Medicina da USP, o novo instituto nasce com um novo modelo de gestão, pautado pela produtividade e pela humanização, cujo objetivo é mudar paradigmas na área de administração hospitalar.
No processo de implantação do Instituto do Câncer de São Paulo, foi estabelecido que haverá dedicação extra de todo o corpo clínico, já que os médicos ficarão mais tempo do que a média usual dentro da unidade, acompanhando a evolução dos pacientes e esclarecendo eventuais dúvidas de familiares e acompanhantes. Essa medida é fundamental para proporcionar segurança, especialmente a pessoas que possuem diagnóstico de câncer, palavra que ainda assusta mesmo os mais esclarecidos e até pouco tempo atrás era sinônimo de doença sem cura.
O instituto também terá metas preestabelecidas a serem cumpridas em cada um dos seus setores. O desafio será planejar, dia a dia, mês a mês, consultas, procedimentos, tratamentos e cirurgias de modo a não deixar o paciente à espera de atendimento.
Quando estiver trabalhando em sua capacidade total, o Instituto do Câncer de São Paulo duplicará a capacidade de leitos oncológicos do Estado e poderá oferecer 400 mil consultas, 5.000 procedimentos de radioterapia, 70 mil de quimioterapia e 16 mil cirurgias por ano.
A implantação de uma gestão diferenciada vai ao encontro de uma das principais missões do instituto: a de ser um hospital resolutivo, que ofereça atendimento integral de maneira ágil e eficiente.
Hoje, o paciente com câncer que utiliza a rede pública de saúde precisa passar por diversos locais até receber o tratamento. A partir da implantação total dos serviços do hospital, quem for encaminhado ao Instituto do Câncer de São Paulo cumprirá todas as etapas do tratamento, incluindo reabilitação, sem sair da unidade.
A preocupação com o acolhimento do paciente é parte de uma filosofia de humanização que, no Instituto do Câncer de São Paulo, já nasce com o hospital. O projeto de humanização envolve não apenas o atendimento aos pacientes e a disponibilização de espaços acolhedores, mas passa pelo apoio aos familiares, pela atenção individualizada e pela valorização social, cultural e subjetiva tanto de quem está fornecendo o serviço quanto dos que dele usufruem.
Além da filosofia de humanização e de responsabilidade ética em todos os processos que envolvem o funcionamento do instituto, a estruturação física recebeu atenção especial.
Diferentemente do que ocorre no Hospital das Clínicas, onde os espaços são compartimentados e separados por especialidades, no Instituto do Câncer de São Paulo, a estrutura física é compartilhada pelos diversos serviços que compõem a atenção ao paciente oncológico. No hospital, que pretende oferecer tratamento integral e diferenciado a quem tem câncer, tudo é de todos.
O trabalho do Instituto do Câncer de São Paulo também irá beneficiar, direta e indiretamente, pacientes de outros hospitais do Estado.
Os novos medicamentos padronizados para distribuição gratuita a pacientes do instituto, por exemplo, deverão ser estendidos às pessoas atendidas nas unidades credenciadas, como Cacons (centros de alta complexidade em oncologia).
A atuação do instituto irá auxiliar, inclusive, na redefinição do fluxo de atendimento dos casos oncológicos pela rede pública. Pacientes com problemas menos graves poderão passar por avaliação clínica periódica no instituto e continuar o tratamento rotineiro em outros hospitais da rede.
Com uma administração moderna e diferenciada, somada ao modelo de assistência, ensino e pesquisa adotado pela Faculdade de Medicina da USP e seu complexo de hospitais, o Instituto do Câncer de São Paulo assume papel de vanguarda no tratamento da doença.
E o caminho está sendo trilhado nos passos da mudança.


GIOVANNI GUIDO CERRI , 54, é professor titular da Faculdade de Medicina da USP e diretor-geral do Instituto do Câncer de São Paulo "Octavio Frias de Oliveira".

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