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Clima indefinido
A quatro meses da reunião de Copenhague, Brasil deveria ousar mais nas negociações sobre o aquecimento global
A CONFERÊNCIA de Copenhague, derradeira cúpula internacional sobre mudança climática
destinada a produzir um tratado
que suceda e vá além do Protocolo de Kyoto, está a apenas quatro
meses de distância. Há algumas
razões para crer que tal objetivo
possa não se realizar, dando lugar à adoção de um acordo fraco
ou ao adiamento da negociação.
Uma delas reside na indefinição do governo do Brasil, país ao
qual todas as partes atribuem
um papel decisivo. De fato, a situação ambiental brasileira é
única: economia industrial baseada em energia elétrica de fontes majoritariamente renováveis, com liderança em biocombustíveis e dotada da maior floresta tropical do planeta.
A timidez da administração
Lula nesse setor foi posta em evidência, não sem diplomacia, pelo
ministro britânico de Energia e
Mudanças Climáticas, Ed Miliband, que visita o Brasil. Em entrevista a esta Folha, disse esperar "um número para 2020", que
evidencie quanto e como o país
planeja diminuir suas emissões.
"Não necessariamente reduções
absolutas, mas desvios de sua
trajetória atual", ressalvou.
A declaração resume o que países desenvolvidos esperam dos
emergentes que contam -China, Índia e Brasil- na mesa de
negociação: compromisso concreto, ainda que limitado, com a
redução de emissões de gases
responsáveis pelo aquecimento
da atmosfera da Terra.
Reduzir emissões tem um custo que se subtrai do esforço de
desenvolvimento. Há justiça,
portanto, na demanda dos emergentes de que nações mais ricas
arquem com o esforço maior e
inicial para conter o aquecimento global. Também se espera que
forneçam capital e tecnologia
para evitar emissões. Mas China,
Índia e Brasil não se encontram
tão unidos, nessa questão, quanto seria de imaginar.
Os chineses parecem se inclinar para um compromisso com
os EUA. Ambos são os maiores
emissores da Terra, e nenhum
deles dará um passo sem que o
outro o faça. Não é pequeno o
risco de que essa dependência
conduza Copenhague ao mínimo denominador comum e a um
tratado pífio, incapaz de realizar
a meta de conter o aquecimento
abaixo dos 2C neste século.
Já a Índia evolui para uma posição obstrucionista. Jairam Ramesh, ministro do Ambiente do
país, admite discutir alguma meta limitada, mas só em 2020.
O Brasil fica no meio. Seu único trunfo está na redução obtida
no triênio 2005-2007 para o
desmatamento, maior fonte de
nossas emissões -que agora volta a aumentar. A ela o governo
atrelou a proposta inteligente do
Fundo Amazônia -doações voluntárias de países, empresas ou
pessoas que só podem ser sacadas na medida em que se reduza
o corte de florestas.
O objetivo declarado é diminuir em 80% o desmate até
2020. Um progresso, diante da
recusa anterior a adotar qualquer meta. Sendo entretanto um
compromisso não obrigatório,
parece insuficiente para demonstrar que o Brasil se compromete com uma mudança
substancial do atual cenário, que
pode levar o planeta a graves
transtornos.
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