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Ganância e inaptidão
Gol fracassa ao tentar atender à demanda crescente; Anac mais uma vez falha na fiscalização, e governo Lula continua mal no setor aéreo
Um conluio de cupidez e incompetência prejudicou a vida de dezenas de milhares de passageiros
no início desta semana. Ao tentar
realizar operações no limite de sua
capacidade, a companhia aérea
Gol registrou atrasos em mais da
metade de seus voos na segunda-feira, e cancelamentos em 12% do
total. No dia seguinte, quase 40%
das partidas voltaram a ser adiadas, e 7% delas, embora previstas,
não aconteceram.
Esse novo capítulo no drama do
caos aéreo brasileiro acontece sob
a vigilância sempre precária da
Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), incapaz de fiscalizar a
contento as empresas do setor e de
agir preventivamente para defender os consumidores.
A forte demanda por operações
de fretamento -em que aeronaves são alugadas para agências de
viagem- no período de férias foi
atendida pela Gol. Mas a empresa
não dispõe de comissários e pilotos em número suficiente para
cumprir esses contratos e, simultaneamente, manter o bom funcionamento dos voos regulares.
A queixa de "falta de pessoal" é
manifestada por funcionários. Sabe-se que parte do sucesso empresarial da Gol advém de sua proposta de trabalhar com baixos
custos operacionais, o que implica quadro de recursos humanos
enxuto. Não se trata de questionar
a elogiável busca por eficiência,
mas a incapacidade de atingi-la.
A empresa tentou fazer mais
com menos -e não conseguiu. É
dever da agência que regula o setor prevenir resultados desse tipo.
Havia indícios de que a carga de
trabalho dos tripulantes da Gol se
aproximava do limite praticável.
Mas os sinais de perigo emitidos
com antecedência parecem não
ter bastado para a Anac.
O sindicato dos pilotos e comissários encaminhou à agência centenas de queixas, em julho, sobre
as condições de trabalho na Gol.
A agência afirma ter investigado as informações e concluído que
o limite de horas trabalhadas por
pilotos e comissários era observado pela empresa. A companhia aérea diz o mesmo, mas acrescenta
que cancelou voos para impedir
que esse teto fosse ultrapassado.
Trabalhava perto da capacidade
máxima, portanto. E nenhuma
providência foi tomada pela Anac.
Só depois de instalado o caos a
agência obteve da Gol o compromisso de receber relatórios regulares das horas voadas por seus tripulantes. Ontem, por fim, aplicou
multa de R$ 2 milhões à empresa.
Uma atuação mais eficiente da
agência certamente teria ajudado
a evitar tantos problemas nos últimos dias, meses e anos. Mais competição, com empresas que buscam crescer no promissor mercado brasileiro, também contribuiria para melhorar a qualidade dos
serviços que são oferecidos aos
usuários do transporte aéreo.
É crescente a demanda por voos
no país. Mas não há como atender
à procura se a oferta continuar engessada pela ineficiência generalizada. Já se tornou ocioso lembrar
que faltam vagas em aeroportos
para que novas e antigas empresas ampliem o número de voos. E
faltam aeroportos.
O governo Lula, que não consegue fazer a Anac funcionar, não
admite, por surradas razões ideológicas, privatizar a Infraero, cuja
atuação na ampliação da infraestrutura tem sido pífia -e com frequência cercada de suspeitas. Não
se vai longe, desse jeito.
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