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CAÇA AO DÓLAR
Visto de maneira isolada, pode
parecer pouco relevante o
anúncio de que o governo brasileiro
aumentou a meta para o superávit
primário deste ano de 3,75% para
3,88% do PIB. Afinal, o esforço adicional prometido é modesto (0,13%
do PIB). Mas cabe lembrar que até
meados de junho a meta era de 3,5%
do PIB. Em menos de três meses, o
esforço fiscal foi relevante.
Nesse intervalo de tempo, subiu, e
em ritmo ainda mais expressivo, a
cotação do dólar. Em paralelo, cresceu com velocidade preocupante a
dívida pública líquida - pela razão
básica de que quase metade dela tem
seu valor atrelado ao do dólar.
Os seguidos aumentos da meta de
superávit primário têm objetivo similar ao do acordo firmado com o Fundo: dar maior tranquilidade aos credores quanto à capacidade do setor
público de honrar sua dívida.
O governo renova sua confiança no
esforço fiscal como o fiador da credibilidade da política econômica. Essa
credibilidade preservaria a entrada de
dólares, dando condições para que o
ajuste das contas externas pudesse
continuar a ser feito gradualmente
-e a um custo baixo, em termos de
pressão sobre os preços.
A dúvida diz respeito à sustentabilidade dessa estratégia num quadro
internacional que se deteriorou muito. A "caça aos dólares", repentinamente bastante escassos, a golpes de
progressivos cortes de gasto e aumentos de impostos não vem se revelando eficaz.
Se a aversão internacional ao risco,
hoje altíssima, se desanuviar em prazo curto, a volta do crédito para o
país aliviará as tensões atuais. Mas,
se a desconfiança internacional prosseguir alta por meses a fio, há que
pensar em alternativas. Novos aumentos do esforço fiscal tenderiam a
persistir ineficazes para atrair dólares. Nessa hipótese, seria prudente
preservar as reservas internacionais
do Banco Central, para reter margem
de manobra, evitando gastar a maior
parte do cacife do BC na tentativa de
reprimir a alta do dólar e da inflação.
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