São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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CAÇA AO DÓLAR

Visto de maneira isolada, pode parecer pouco relevante o anúncio de que o governo brasileiro aumentou a meta para o superávit primário deste ano de 3,75% para 3,88% do PIB. Afinal, o esforço adicional prometido é modesto (0,13% do PIB). Mas cabe lembrar que até meados de junho a meta era de 3,5% do PIB. Em menos de três meses, o esforço fiscal foi relevante.
Nesse intervalo de tempo, subiu, e em ritmo ainda mais expressivo, a cotação do dólar. Em paralelo, cresceu com velocidade preocupante a dívida pública líquida - pela razão básica de que quase metade dela tem seu valor atrelado ao do dólar.
Os seguidos aumentos da meta de superávit primário têm objetivo similar ao do acordo firmado com o Fundo: dar maior tranquilidade aos credores quanto à capacidade do setor público de honrar sua dívida.
O governo renova sua confiança no esforço fiscal como o fiador da credibilidade da política econômica. Essa credibilidade preservaria a entrada de dólares, dando condições para que o ajuste das contas externas pudesse continuar a ser feito gradualmente -e a um custo baixo, em termos de pressão sobre os preços.
A dúvida diz respeito à sustentabilidade dessa estratégia num quadro internacional que se deteriorou muito. A "caça aos dólares", repentinamente bastante escassos, a golpes de progressivos cortes de gasto e aumentos de impostos não vem se revelando eficaz.
Se a aversão internacional ao risco, hoje altíssima, se desanuviar em prazo curto, a volta do crédito para o país aliviará as tensões atuais. Mas, se a desconfiança internacional prosseguir alta por meses a fio, há que pensar em alternativas. Novos aumentos do esforço fiscal tenderiam a persistir ineficazes para atrair dólares. Nessa hipótese, seria prudente preservar as reservas internacionais do Banco Central, para reter margem de manobra, evitando gastar a maior parte do cacife do BC na tentativa de reprimir a alta do dólar e da inflação.



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