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CÚPULA FRACASSADA
Um fracasso quase completo.
Essa parece ser uma descrição
precisa e realista da Cúpula Mundial
sobre Desenvolvimento Sustentável,
que se encerrou ontem em Johannesburgo, na África do Sul. E não se pode afirmar que esse desfecho amplamente negativo tenha sido uma surpresa. As dificuldades para um entendimento mínimo entre os 191 países participantes, que já podiam ser
intuídas, ficaram patentes pelo menos desde maio, quando se realizou
em Bali (Indonésia) a última reunião
preparatória oficial para o encontro.
O que se viu em Johannesburgo foi
um esforço quase desesperado dos
delegados de nações mais atentas a
problemas ambientais para impedir
que houvesse retrocessos marcantes
em relação ao que fora acordado dez
anos antes, no Rio de Janeiro, na
Eco-92. E, se os ambientalistas lograram sucesso em impedir que os documentos oficiais da cúpula caminhassem para trás, dificilmente evitarão que a questão do desenvolvimento sustentável permaneça em
plano inferior na ordem das grandes
prioridades mundiais.
Sob esse aspecto, os maiores inimigos da causa ambiental são, sem
sombra de dúvida, George W. Bush e
o unilateralismo norte-americano.
Essa tendência, que já era clara antes
do 11 de setembro, se tornou paroxística depois dos atentados terroristas.
Mas seria injusto culpar apenas os
EUA pelos reveses. Dificuldades econômicas também tiveram sua parte
nos impasses. Por diferentes razões e
em graus diversos, países ricos não
contribuíram como haviam se comprometido para o desenvolvimento
de projetos ecológicos e sociais nas
nações pobres. E o simples fato de a
agenda ambiental ficar ao sabor de
crises conjunturais já revela que o tema não se tornou uma prioridade.
A própria concepção da ONU de
organizar megarreuniões de cúpula
para debater problemas de relevância
global e tentar elaborar consensos
sobre como abordá-los parece ter se
esgotado. As discussões se tornam
tão amplas que perdem seu objeto. É
verdade que a questão ambiental tem
a ver com pobreza, mas tentar resolver tudo ao mesmo tempo equivale a
confinar-se ao imobilismo.
Resta esperar que o fracasso de Johannesburgo pelo menos sirva para
que as Nações Unidas e a comunidade internacional reflitam sobre seus
mecanismos de debate e atuação e
procurem aprimorá-los.
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