São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CÚPULA FRACASSADA

Um fracasso quase completo. Essa parece ser uma descrição precisa e realista da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que se encerrou ontem em Johannesburgo, na África do Sul. E não se pode afirmar que esse desfecho amplamente negativo tenha sido uma surpresa. As dificuldades para um entendimento mínimo entre os 191 países participantes, que já podiam ser intuídas, ficaram patentes pelo menos desde maio, quando se realizou em Bali (Indonésia) a última reunião preparatória oficial para o encontro.
O que se viu em Johannesburgo foi um esforço quase desesperado dos delegados de nações mais atentas a problemas ambientais para impedir que houvesse retrocessos marcantes em relação ao que fora acordado dez anos antes, no Rio de Janeiro, na Eco-92. E, se os ambientalistas lograram sucesso em impedir que os documentos oficiais da cúpula caminhassem para trás, dificilmente evitarão que a questão do desenvolvimento sustentável permaneça em plano inferior na ordem das grandes prioridades mundiais.
Sob esse aspecto, os maiores inimigos da causa ambiental são, sem sombra de dúvida, George W. Bush e o unilateralismo norte-americano. Essa tendência, que já era clara antes do 11 de setembro, se tornou paroxística depois dos atentados terroristas.
Mas seria injusto culpar apenas os EUA pelos reveses. Dificuldades econômicas também tiveram sua parte nos impasses. Por diferentes razões e em graus diversos, países ricos não contribuíram como haviam se comprometido para o desenvolvimento de projetos ecológicos e sociais nas nações pobres. E o simples fato de a agenda ambiental ficar ao sabor de crises conjunturais já revela que o tema não se tornou uma prioridade.
A própria concepção da ONU de organizar megarreuniões de cúpula para debater problemas de relevância global e tentar elaborar consensos sobre como abordá-los parece ter se esgotado. As discussões se tornam tão amplas que perdem seu objeto. É verdade que a questão ambiental tem a ver com pobreza, mas tentar resolver tudo ao mesmo tempo equivale a confinar-se ao imobilismo.
Resta esperar que o fracasso de Johannesburgo pelo menos sirva para que as Nações Unidas e a comunidade internacional reflitam sobre seus mecanismos de debate e atuação e procurem aprimorá-los.


Texto Anterior: Editoriais: CAÇA AO DÓLAR
Próximo Texto: Editoriais: MISTÉRIO MUNICIPAL

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.