São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2006

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Mudanças aceleradas

Concorrência acirrada e câmbio desfavorável pressionam montadoras de automóveis a realizar reestruturações radicais

FELIZMENTE , a notícia de demissões em massa de trabalhadores da Volkswagen em São Bernardo do Campo não se materializou. Ontem a empresa suspendeu as dispensas e retomou negociações com o sindicato. Ganham um novo alento as perspectivas quanto à solução desse drama pontual. Já o problema estrutural que pressiona montadoras a deslanchar processos radicais de reestruturação, este permanece.
O complexo automotivo global tem se caracterizado por um baixo dinamismo, sobretudo nos países avançados -EUA e Europa. Estima-se, no setor, uma taxa de crescimento da produção mundial em torno de 3% ao ano.
As grandes montadoras procuram obsessivamente reduzir custos por meio de inovações técnicas e do desenvolvimento de logísticas de escala mundial. A Toyota, por exemplo, anunciou investimento de US$ 42 milhões no Brasil para aumentar a produção de algumas autopeças. O volume financeiro da nova inversão, porém, contrasta com o número de novos empregados que vai demandar: apenas 90.
Atraídas pelo Regime Automotivo, do início do Plano Real, e pelas perspectivas de avanço no Mercosul, várias montadoras se instalaram no país. A concorrência e as inovações organizacionais foram catapultadas. A corrida por frações menores de custo implicou subcontratações, redução e flexibilização do emprego.
A desvalorização do real, a partir de 1999, restaurou a competitividade das montadoras domésticas. O câmbio favorável, em um contexto de baixo crescimento do mercado doméstico, induziu as empresas a utilizar parte da capacidade produtiva instalada para suprir o mercado externo, sobretudo de carros populares. As exportações alcançaram 897 mil unidades em 2005. A Volks foi responsável por 38% delas.
A persistente revalorização da moeda brasileira diante do dólar, no entanto, fragiliza um dos elementos que reanimaram o complexo automobilístico brasileiro nos últimos anos. Diante da feroz concorrência das plataformas asiáticas e do Leste Europeu, quanto maior a dependência do mercado externo, maiores devem ser as pressões por reduções recorrentes de custos.
De tudo o que a Volkswagen produz no Brasil, 42% são exportados. Daí o novo ciclo de pressões da montadora alemã por novas reduções em seus custos.
Uma parte relevante do problema da Volks diz respeito apenas à empresa -está relacionada a seu posicionamento no mercado global. Soube-se também ontem, a propósito, que 3.500 funcionários da montadora na Alemanha aceitaram desligar-se da fábrica por meio de um plano de demissões voluntárias.
Mas é inegável que o desajuste nas variáveis macroeconômicas (juros, câmbio e tributos) brasileiras também exerce um papel negativo nesse caso. Falta coragem e iniciativa da parte do governo federal para tomar medidas que acelerem o combate a essas distorções. Enquanto elas permanecem, o país perde empregos e investimentos para outras nações menos desatentas.


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