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Mudanças aceleradas
Concorrência acirrada e câmbio desfavorável pressionam montadoras de automóveis a realizar reestruturações radicais
FELIZMENTE , a notícia de
demissões em massa de
trabalhadores da Volkswagen em São Bernardo
do Campo não se materializou.
Ontem a empresa suspendeu as
dispensas e retomou negociações com o sindicato. Ganham
um novo alento as perspectivas
quanto à solução desse drama
pontual. Já o problema estrutural que pressiona montadoras a
deslanchar processos radicais de
reestruturação, este permanece.
O complexo automotivo global
tem se caracterizado por um baixo dinamismo, sobretudo nos
países avançados -EUA e Europa. Estima-se, no setor, uma taxa
de crescimento da produção
mundial em torno de 3% ao ano.
As grandes montadoras procuram obsessivamente reduzir
custos por meio de inovações
técnicas e do desenvolvimento
de logísticas de escala mundial. A
Toyota, por exemplo, anunciou
investimento de US$ 42 milhões
no Brasil para aumentar a produção de algumas autopeças. O
volume financeiro da nova inversão, porém, contrasta com o
número de novos empregados
que vai demandar: apenas 90.
Atraídas pelo Regime Automotivo, do início do Plano Real, e
pelas perspectivas de avanço no
Mercosul, várias montadoras se
instalaram no país. A concorrência e as inovações organizacionais foram catapultadas. A corrida por frações menores de custo
implicou subcontratações, redução e flexibilização do emprego.
A desvalorização do real, a partir de 1999, restaurou a competitividade das montadoras domésticas. O câmbio favorável, em um
contexto de baixo crescimento
do mercado doméstico, induziu
as empresas a utilizar parte da
capacidade produtiva instalada
para suprir o mercado externo,
sobretudo de carros populares.
As exportações alcançaram 897
mil unidades em 2005. A Volks
foi responsável por 38% delas.
A persistente revalorização da
moeda brasileira diante do dólar,
no entanto, fragiliza um dos elementos que reanimaram o complexo automobilístico brasileiro
nos últimos anos. Diante da feroz concorrência das plataformas asiáticas e do Leste Europeu, quanto maior a dependência do mercado externo, maiores
devem ser as pressões por reduções recorrentes de custos.
De tudo o que a Volkswagen
produz no Brasil, 42% são exportados. Daí o novo ciclo de pressões da montadora alemã por
novas reduções em seus custos.
Uma parte relevante do problema da Volks diz respeito apenas à empresa -está relacionada
a seu posicionamento no mercado global. Soube-se também ontem, a propósito, que 3.500 funcionários da montadora na Alemanha aceitaram desligar-se da
fábrica por meio de um plano de
demissões voluntárias.
Mas é inegável que o desajuste
nas variáveis macroeconômicas
(juros, câmbio e tributos) brasileiras também exerce um papel
negativo nesse caso. Falta coragem e iniciativa da parte do governo federal para tomar medidas que acelerem o combate a essas distorções. Enquanto elas
permanecem, o país perde empregos e investimentos para outras nações menos desatentas.
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