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CLÓVIS ROSSI
Absolvição, imagem e conteúdo
SÃO PAULO - Ao editorial "Dimensão paralela", em que a Folha
disseca o mundo da fantasia em
que vive o presidente Lula, faltou
acrescentar um elemento: é falsa
como nota de R$ 3 a tese presidencial de que ele foi absolvido do escândalo do mensalão pelo simples
fato de ter sido reeleito.
Aliás, coube ao próprio PT destruir a tese ao aprovar proposta de
investigação da privatização da Vale, operada no governo Fernando
Henrique Cardoso. Como todo
mundo sabe, a privatização se deu
no primeiro mandato de FHC. Como ele obteve um segundo mandato, foi absolvido, segundo a teoria
"lulista".
Aliás, até mais absolvido do que o
próprio Lula se acha, na medida em
que se reelegeu no primeiro turno,
contra um peso-pesado (o próprio
Lula), ao passo que o atual presidente teve que submeter-se a um
segundo turno, contra um peso-leve como era Geraldo Alckmin.
Nada contra investigar a privatização da Vale (ou todas). Tudo contra teorias fraudulentas.
Por falar em investigações, é
complicada a tese do novo diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, de que vai doravante
priorizar o conteúdo em vez da
imagem. Por mais que Corrêa negue, o fato é que sua frase detona o
período de Paulo Lacerda, seu antecessor, durante o qual foram feitas 412 ações de grande repercussão e presas 6.411 pessoas.
Em um país mais ou menos civilizado, Lacerda teria a obrigação de
demonstrar que sua ação não foi
apenas imagem. Teria que dizer
quantos dos mais de 6.000 presos
foram condenados ou em que estágio está o processo, se há processo,
se estão soltos ou não.
Levantamento recente da revista
"Veja" mostrou que quase ninguém
ficou na cadeia, passado o espalhafato das operações.
A PF deve pois ao público a demonstração de que imagem não é
nada, conteúdo é tudo.
crossi@uol.com.br
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