São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Absolvição, imagem e conteúdo

SÃO PAULO - Ao editorial "Dimensão paralela", em que a Folha disseca o mundo da fantasia em que vive o presidente Lula, faltou acrescentar um elemento: é falsa como nota de R$ 3 a tese presidencial de que ele foi absolvido do escândalo do mensalão pelo simples fato de ter sido reeleito.
Aliás, coube ao próprio PT destruir a tese ao aprovar proposta de investigação da privatização da Vale, operada no governo Fernando Henrique Cardoso. Como todo mundo sabe, a privatização se deu no primeiro mandato de FHC. Como ele obteve um segundo mandato, foi absolvido, segundo a teoria "lulista".
Aliás, até mais absolvido do que o próprio Lula se acha, na medida em que se reelegeu no primeiro turno, contra um peso-pesado (o próprio Lula), ao passo que o atual presidente teve que submeter-se a um segundo turno, contra um peso-leve como era Geraldo Alckmin.
Nada contra investigar a privatização da Vale (ou todas). Tudo contra teorias fraudulentas. Por falar em investigações, é complicada a tese do novo diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, de que vai doravante priorizar o conteúdo em vez da imagem. Por mais que Corrêa negue, o fato é que sua frase detona o período de Paulo Lacerda, seu antecessor, durante o qual foram feitas 412 ações de grande repercussão e presas 6.411 pessoas.
Em um país mais ou menos civilizado, Lacerda teria a obrigação de demonstrar que sua ação não foi apenas imagem. Teria que dizer quantos dos mais de 6.000 presos foram condenados ou em que estágio está o processo, se há processo, se estão soltos ou não.
Levantamento recente da revista "Veja" mostrou que quase ninguém ficou na cadeia, passado o espalhafato das operações.
A PF deve pois ao público a demonstração de que imagem não é nada, conteúdo é tudo.


crossi@uol.com.br

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