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MELCHIADES FILHO
Turno e returno
BRASÍLIA - Poucas discussões
são tão ociosas como a que versa sobre supostas divergências entre Lula e seu partido em torno da sucessão. Nenhum dos atores que se assanham para 2010 acha que o PT
abrirá mão de encabeçar chapa.
Primeiro porque política, como
diriam Jean-Claude Van Damme e
Renan Calheiros, é "retroceder
nunca, render-se jamais". Não se
entrega espaço de mão beijada.
Segundo, o petismo não sofreu
revés nas urnas que justifique um
recuo tático. Pelo contrário, 2006
confirmou um eleitorado fiel.
Terceiro, o PT não haveria de
prescindir da candidatura que funciona como propulsora para outras
(Estados e Congresso).
Quarto, é conveniente ao Planalto incluir um concorrente integralmente comprometido com os trunfos (e trastes) dos dois mandatos.
Por fim, quanto mais palanques,
melhor para Lula. Por que ele dispensaria o benefício de receber, catalogar e agradecer elogios?
A disputa entre aliados no primeiro turno já está "contratada".
Houve até um ensaio, no ano passado em Pernambuco, e o governo
saiu inteiro dele. O PT lançou o ex-ministro Humberto Costa contra
Eduardo Campos, do lulista PSB.
Perdeu e fez as pazes, bonitinho, no
segundo turno.
Para Lula e o PT, mais inquietantes são as dificuldades de composição em um tira-teima contra a oposição em 2010. Sabem que a militância petista não engole Ciro Gomes, do PSB, o primeiro a colocar o
bloquinho na rua. As opções no
PMDB são tão ou mais indigestas.
O debate cascateiro sobre um
candidato único procura aparar essas arestas. Mira o único cenário
em que Lula de fato seria derrotado.
Até porque o inimigo já percebeu
esse dilema. O apoio decisivo dos
tucanos na vitória de Arlindo Chinaglia na Câmara, a trégua na Assembléia paulista em que até petista vota para engavetar CPIs, a revoada de ministros sobre São Paulo
-aos poucos tudo ganha sentido.
mfilho@folhasp.com.br
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