São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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AÉCIO NEVES

Inovação

Acompanho com respeitosa solidariedade a saga de Steve Jobs, o criador da Apple. Aos 56 anos, acaba de se retirar do comando da empresa por problemas de saúde. Mas, toda vez que se falar em inovação e criatividade, seu nome será uma referência automática.
Ninguém como ele forjou tão bem nossa ideia de modernidade, incorporou o vertiginoso mundo da informação instantânea, global, sem limites no tempo e no espaço, a que todos podem ter acesso.
Jobs colocou sua genialidade a serviço de uma conquista democrática e configurou uma convergência entre a tecnologia e o conhecimento. Um visionário com os pés no chão.
Uma vez lhe perguntaram que tipo de pesquisa de mercado fizera para chegar ao iPad. Ele respondeu: "Nenhuma. Não é tarefa do consumidor saber o que quer".
Um Steve Jobs não brota por geração espontânea. Ele floresce num caldo de cultura em que a educação é valorizada e o talento, reconhecido. Em que a ciência tem lugar, respeito e incentivo. A contribuição das universidades é fundamental nesse sentido, mas são as empresas, na maioria das vezes, que têm condições de liderar os investimentos em pesquisa e tecnologia.
Além de colocar na agenda de prioridades a melhoria da qualidade do ensino superior e das escolas técnicas, ao governo cabe criar meios e estímulos para que esses investimentos ocorram.
Há iniciativas simples que podem ter grande retorno, como maiores incentivos aos polos de desenvolvimento de pesquisas nos setores estratégicos ou nos quais o Brasil tem tradição e expertise. Da mesma forma, o apoio a incubadoras, viabilizando a criação de mais empresas inovadoras, com o fortalecimento das redes atuais e sua maior integração com os programas oficiais.
O governo pode ainda incentivar a proliferação de comitês reunindo universidades, empresários e institutos de pesquisa, para traçar estratégias integradas de fomento à inovação.
Os dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Wipo, na sigla em inglês) registram 442 pedidos de patentes verde-amarelas em 2010. A China protocolou 12.337, a Holanda, 4.097, e só a fabricante japonesa Panasonic fez 2.154 pedidos no ano. Os EUA tiveram 44.855.
O mundo se dividirá cada vez mais entre os países que investem com seriedade em educação, pesquisa e tecnologia e os que não o fazem.
A reconhecida criatividade dos brasileiros ainda traz resultados muito aquém dos necessários para crescermos com qualidade. Se soubermos valorizar os talentos que militam à sombra de nossos laboratórios de pesquisa, universidades e empresas, o Brasil certamente dará importantes contribuições ao mundo. Mas elas serão dadas, sobretudo, ao nosso próprio futuro.

AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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