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ESCOLA PÚBLICA E DEMAGOGIA
O Senado acaba de reservar 50% das
vagas das universidades públicas para
estudantes que fizeram seus cursos
fundamental e médio apenas em escolas públicas. Resta a aprovação da
Câmara para que a criação de cotas no
ensino superior e uma benevolência
demagógica se tornem lei.
A reação imediata diante desse tipo
de iniciativa é lembrar aos parlamentares que universidade é centro de excelência, de formação dos melhores e
mais capacitados quadros do país.
Mas apenas esse argumento não mostra quão desinformada é a atitude dos
que defendem tal medida.
Na justificação do projeto senatorial, alega-se que a lei é "medida de
ação afirmativa" que quer "atenuar a
discriminação imposta às camadas
mais pobres". Apenas 45% dos alunos das universidades federais viriam
de escolas públicas, justificam. Os senadores poderiam até acenar com dados de duas das melhores universidades do Brasil, USP e Unicamp, nas
quais apenas 25% dos aprovados no
vestibular em 98 cursaram o ensino
médio em escola do Estado.
Um exame em detalhe da questão
revela as inconsistências do projeto.
Por que as vagas serão reservadas apenas aos que fizeram integralmente
seus estudos na escola pública? Quem
a duras penas teve estudos pagos por
um ou dois anos em uma barata e ineficaz escola privada, que há aos milhares, deve ser excluído?
É uma minoria seleta de grandes escolas privadas que coloca seus alunos
nas melhores universidades. Mesmo
assim, 20% dos estudantes da Unicamp provêm de famílias com rendimento inferior a dez salários mínimos. Embora a grande maioria dos
brasileiros tenha renda inferior a essa,
ainda assim ela não basta para pagar
mensalidades de escolas de elite.
De resto, vestibulandos bem-sucedidos de escolas públicas cursaram estabelecimentos que muita vez estão
em bairros de classe média, cujos pais
têm boa formação educacional, auxiliam as escolas até com dinheiro e
participam da comunidade escolar.
São poucos os de fato pobres que furam a barreira da "discriminação",
como justifica o projeto do Senado.
Alguma aritmética pode dar ainda a
medida da inocuidade do projeto de
cotas, ademais se considerada a ambição de propósitos senatorial. Com a
nova lei, aumentaria em 7.000 o número de alunos de escolas públicas na
USP, na Unicamp e nas instituições
federais, que matriculam por ano 107
mil novos alunos, de resto em detrimento de estudantes mais preparados. Vale lembrar ainda que são 5 milhões os que cursam o ensino médio
público. Segundo o MEC, 53% estão
atrasados nos estudos. Apenas 25%
dos brasileiros em idade de estudar no
ensino médio estão em escolas desse
nível de instrução.
Em 1999, 27% dos novos alunos da
USP vieram de escola pública. Há cinco anos, eles eram 32%. Há 20 anos,
eles foram 57%. Os ainda poucos brasileiros que chegam ao ensino médio
público estudam em escolas cujo nível
claramente se degrada. Parece evidente que o enfoque sério do problema
deve ser o da melhoria da educação
pública. Reservar cotas para estudantes do Estado não ataca o problema,
mas pode reservar votos para os defensores de tal projeto.
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