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Que são Pedro
nos ajude....
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
As últimas semanas vêm sendo marcadas por uma forte polêmica: estabilização ou desenvolvimento?
Dentre os interlocutores há de tudo,
desde os demagogos contumazes e conhecidos na praça até cidadãos de respeito e possuidores das melhores intenções.
É claro que todos querem desenvolvimento e estabilidade. Será que não
estamos diante de um falso dilema?
Costumo enxergar melhor os obstáculos quando trafego por estradas conhecidas. Ultimamente, no meu dia-a-dia, o que mais me preocupa são os
entraves que bloquearão o Brasil na
hora de recomeçar a crescer.
Você sabia, caro leitor, que a desejada aceleração do crescimento esbarra
em uma grave falta de energia elétrica?
Nesse campo, a demanda não pára de
crescer. Os investimentos são irrisórios. E a seca, todos os anos, reduz o
nível das represas, levando o país à
beira dos blecautes.
Não quero ser alarmista. Mas os números são preocupantes. Às 18h43 da
última quarta-feira, o sistema brasileiro de energia elétrica bateu o recorde
de consumo, tendo atingido a marca
de 53.135 megawatts (Sinopse Diária
do Operador Nacional do Sistema Elétrico, 1/9/99). Do lado da oferta, nesse
mesmo dia, a maioria dos reservatórios estava com menos de 40% da sua
quantidade normal de água.
Para o Brasil conseguir uma posição
razoável em termos de energia elétrica, será necessário construir uma Usina de Tucuruí por ano -ou seja,
3.500 megawatts-, o que está muito
aquém das construções atuais.
Graças à melhoria das condições de
educação e saúde dos últimos 30 anos,
a população brasileira passou a crescer mais devagar. Mas a desaceleração
demográfica não significa redução do
consumo de eletricidade. Sim, porque
as novas tecnologias e a modernidade
da vida exigem muita energia.
Seria bom se a demanda acompanhasse pari passu a queda da fecundidade. Nada disso. Nesses dias de calor
antecipado, por exemplo, os aparelhos de ar condicionado entraram em
ação com dois meses antecedência. A
proliferação de shopping centers e hipermercados nas grandes cidades alavanca subitamente o consumo de eletricidade. A expansão da iluminação
dos locais públicos, nesses tempos de
tanta insegurança, o uso generalizado
de eletrodomésticos, o crescimento do
agrobusiness -tudo isso demanda
muita eletricidade. E se a indústria
voltar a crescer? Não é isso o que todos
querem?
Muitos assuntos são estratégicos.
Mas esse é dos mais sérios. O recém-lançado "Avança Brasil" terá de garantir prioridade máxima para a área
energética. Para isso, o Brasil precisaria: 1) implementar urgentemente
uma campanha de racionalização do
uso de eletricidade; 2) impor pena aos
que esbanjam e premiar os que economizam; 3) estimular, disciplinar e acelerar os investimentos estrangeiros no
setor energético, principalmente nas
termoelétricas a gás.
Antes de continuarmos com falsos
dilemas, parece-me oportuno entrarmos de cabeça na resolução de problemas concretos da sociedade brasileira.
E o da energia é um dos mais urgentes.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos
nesta coluna.
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