São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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Que são Pedro nos ajude....

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

As últimas semanas vêm sendo marcadas por uma forte polêmica: estabilização ou desenvolvimento?
Dentre os interlocutores há de tudo, desde os demagogos contumazes e conhecidos na praça até cidadãos de respeito e possuidores das melhores intenções.
É claro que todos querem desenvolvimento e estabilidade. Será que não estamos diante de um falso dilema?
Costumo enxergar melhor os obstáculos quando trafego por estradas conhecidas. Ultimamente, no meu dia-a-dia, o que mais me preocupa são os entraves que bloquearão o Brasil na hora de recomeçar a crescer.
Você sabia, caro leitor, que a desejada aceleração do crescimento esbarra em uma grave falta de energia elétrica? Nesse campo, a demanda não pára de crescer. Os investimentos são irrisórios. E a seca, todos os anos, reduz o nível das represas, levando o país à beira dos blecautes.
Não quero ser alarmista. Mas os números são preocupantes. Às 18h43 da última quarta-feira, o sistema brasileiro de energia elétrica bateu o recorde de consumo, tendo atingido a marca de 53.135 megawatts (Sinopse Diária do Operador Nacional do Sistema Elétrico, 1/9/99). Do lado da oferta, nesse mesmo dia, a maioria dos reservatórios estava com menos de 40% da sua quantidade normal de água.
Para o Brasil conseguir uma posição razoável em termos de energia elétrica, será necessário construir uma Usina de Tucuruí por ano -ou seja, 3.500 megawatts-, o que está muito aquém das construções atuais.
Graças à melhoria das condições de educação e saúde dos últimos 30 anos, a população brasileira passou a crescer mais devagar. Mas a desaceleração demográfica não significa redução do consumo de eletricidade. Sim, porque as novas tecnologias e a modernidade da vida exigem muita energia.
Seria bom se a demanda acompanhasse pari passu a queda da fecundidade. Nada disso. Nesses dias de calor antecipado, por exemplo, os aparelhos de ar condicionado entraram em ação com dois meses antecedência. A proliferação de shopping centers e hipermercados nas grandes cidades alavanca subitamente o consumo de eletricidade. A expansão da iluminação dos locais públicos, nesses tempos de tanta insegurança, o uso generalizado de eletrodomésticos, o crescimento do agrobusiness -tudo isso demanda muita eletricidade. E se a indústria voltar a crescer? Não é isso o que todos querem?
Muitos assuntos são estratégicos. Mas esse é dos mais sérios. O recém-lançado "Avança Brasil" terá de garantir prioridade máxima para a área energética. Para isso, o Brasil precisaria: 1) implementar urgentemente uma campanha de racionalização do uso de eletricidade; 2) impor pena aos que esbanjam e premiar os que economizam; 3) estimular, disciplinar e acelerar os investimentos estrangeiros no setor energético, principalmente nas termoelétricas a gás.
Antes de continuarmos com falsos dilemas, parece-me oportuno entrarmos de cabeça na resolução de problemas concretos da sociedade brasileira. E o da energia é um dos mais urgentes.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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