São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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PUTIN NA OTAN

Um elemento parece consolidado na ofensiva norte-americana na Ásia Central. Forma-se uma grande e há uma década inusitada aliança militar no cerco ao Afeganistão. É evidentemente cedo para afirmações taxativas, mas desse fato pode surgir o esboço de um novo desenho geopolítico para o planeta.
E o acontecimento com o maior potencial para alterar o modo como o poder está dividido entre as nações é o esforço do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para mostrar-se um aliado de primeira hora dos EUA. O líder russo já havia liberado espaço aéreo para ações de ajuda humanitária dos EUA. Não se opusera a que os EUA usassem, para fins militares, bases de ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central. Também se dispusera a dividir com os serviços de inteligência de Washington informações sobre atividades terroristas.
O mais recente movimento do presidente russo foi mais ousado. Mostrou-se disposto a rever o veto à expansão da Otan para países que compunham a URSS. E o que aumentou o impacto da declaração foi ela ter sido feita na ocasião da primeira visita de um governante da Rússia à sede da aliança militar ocidental, em Bruxelas.
Uma confluência de interesses de Moscou ajuda a explicar essa tentativa de aproximação com o Ocidente. Os russos buscam legitimidade internacional para a sua atuação contra os separatistas islâmicos na Tchetchênia; tornaram-se dependentes crônicos de ajuda financeira externa; desejam adquirir mais influência política na Europa. Tendo o jogo das nações voltado a exigir grandes lances de geopolítica, a Rússia se aproveita de sua posição estratégica para tentar voltar ao proscênio.
Do resultado dessa aproximação russa, que ainda vai levar tempo para ser conhecido, vão depender ações cruciais para a nova estabilidade geopolítica do planeta, como o encaminhamento do Tratado Antimísseis Balísticos -acordo para a redução de arsenal bélico-, que Bush, antes dos acontecimentos de 11 de setembro, ao que parece, pretendia rasgar.


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