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ENTRAVES GENÉTICOS
Ninguém duvida de que, no capitalismo, patentes desempenham um papel fundamental na geração de aplicações científicas e tecnológicas. Se pessoas e empresas
não pudessem contar com a proteção à propriedade intelectual, não investiriam na pesquisa e no desenvolvimento de novos produtos, privando a humanidade de inovações úteis.
Avanços recentes no campo da genética, contudo, levantam algumas
questões em relação às legislações de
patentes. O Brasil, por exemplo, não
reconhece direitos de patente sobre
organismos vivos ou genes. Os EUA,
por outro lado, vêm concedendo patentes sobre genes. Cientistas se
queixam de que essa prática já cria
obstáculos burocráticos à realização
de pesquisas: às vezes é preciso contatar várias empresas para comprar o
direito de usar certas sequências.
Classicamente, os requisitos para a
patenteabilidade são ineditismo,
não-obviedade e utilidade (aplicação
industrial). É difícil tentar aplicar esses critérios à descrição das bases nitrogenadas que compõem um gene.
Em termos mais simples, um organismo vivo e seus genes não são uma
invenção do cientista que o descreve.
Permitir que um pesquisador patenteie um gene sem que ele esteja
associado a alguma inovação concreta como uma droga é filosoficamente problemático. "Mutatis mutandis", seria como conceder a um
cientista os direitos sobre o carbono,
por exemplo, só porque ele descreveu as propriedades desse elemento
químico. Como o carbono está presente em todos os processos orgânicos, o cientista se tornaria "proprietário" de tudo o que é ou foi vivo.
O Escritório de Patentes dos EUA já
reconheceu que, no passado, foi generoso demais na concessão de proteções intelectuais. A partir de 2001,
começou a restringir seus critérios.
O Brasil, por outro lado, com sua legislação bastante restritiva, ainda
que seja filosoficamente mais consistente, pode estar ficando para trás.
O desafio é elaborar uma legislação
internacional que incentive a pesquisa, mas sem permitir que algumas
poucas empresas se tornem "donas"
da natureza. Infelizmente, vivem-se
tempos em que o unilateralismo tem
sido a marca dos EUA. Não é uma
boa hora para procurar consensos.
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